A intensificação do debate sobre medidas para conter a crise fiscal ganhou força depois do anúncio do pacote de ações pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, na noite do domingo 8. O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, alerta para o risco iminente de um colapso da máquina pública já em 2026, caso as mudanças anunciadas não avancem.
Para Salto, a revisão dos benefícios tributários representa um avanço importante, mas a ausência de cortes nas despesas públicas ainda compromete a solução do problema.
Em entrevista ao Estadão, Salto afirmou que o Congresso Nacional é peça-chave e precisa assumir sua responsabilidade nas decisões fiscais.
“Ou se faz alguma coisa, ou o país vai parar”, afirma Salto. “Essa é a verdade.”
Para ele, não aprovar as medidas exigirá alterar a meta fiscal, o que pode agravar a confusão e pressionar ainda mais os juros, elevando custos sociais.
Economista avalia pacote anunciado pelo governo Lula

Em relação ao pacote anunciado, Salto destaca que há evolução em comparação à proposta inicial de elevação do IOF, já que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atua quase isoladamente pela consolidação fiscal.
No entanto, ressalta que o Congresso não colaborou com cortes e manteve intactos os gastos com emendas parlamentares.
Sobre a arrecadação, Salto indica incertezas quanto ao potencial de receitas das novas tributações, como as apostas, e observa que parte das medidas só terá efeito em 2026 devido à anterioridade tributária.
A revisão dos gastos tributários, avaliada em cerca de R$ 250 bilhões, foi classificada como a principal medida, com potencial de corte de 10% a R$ 25 bilhões ou R$ 26 bilhões.
O governo anunciou aumento da alíquota do J de 15% para 20% e outras medidas para elevar a arrecadação, mas, segundo o economista, elas não resolvem o desequilíbrio fiscal, já que não há corte de despesas. Este seria o ponto mais fraco do pacote.
No curto prazo, o impacto será limitado. A maioria das ações só trará efeito em 2026, como o aumento da CSLL, travado pela noventena. Em 2025, o governo seguirá dependendo do IOF, sem mudanças significativas na alíquota.
Mesmo com as novas medidas, será preciso contingenciar R$ 46,8 bilhões no próximo ano, o que pode comprometer o funcionamento básico do Estado. Salto afirma que as medidas têm efeito duradouro, mas são insuficientes sem controle de gastos, dado o já alto nível de carga tributária.
Controle de despesas é necessário para evitar colapso
Setores como agro, cripto, imobiliário e fintechs reagiram negativamente à tributação, o que já era esperado.
A fala do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que nega compromisso com o pacote, surpreendeu o economista, que cita o desejo do Congresso de manter R$ 52 bilhões em emendas e benefícios para setores específicos, como a Zona Franca. Para ele, sem engajamento do Legislativo, o risco de colapso fiscal aumenta.
Salto defende a aprovação das medidas, mesmo que imperfeitas, como o mínimo para evitar piora da crise. Lembra que tentativas anteriores de cortar renúncias fiscais travaram por falta de apoio político.
O impacto fiscal pode chegar a R$ 44,2 bilhões em 2026, sendo R$ 30 bilhões para a União. Ele projeta crescimento de 2,3% em 2025 e 2% em 2026, abaixo dos anos anteriores, e reforça que o controle das despesas é essencial para o ajuste.
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