O julgamento que apurava a responsabilidade de sete profissionais de saúde pela morte do ex-jogador de futebol Diego Maradona foi oficialmente anulado nesta quinta-feira, 29, depois de a juíza Julieta Makintach ser retirada do processo por envolvimento na produção de um documentário sobre o próprio caso.
A controvérsia começou com a revelação de que Makintach participou da gravação de um documentário intitulado Justicia Divina, no qual aparecia como protagonista. A produção continha imagens e falas da magistrada durante o julgamento, o que levantou dúvidas sobre sua imparcialidade.
Durante audiência pública, foram apresentados o trailer e trechos do roteiro do documentário. Segundo o promotor Patricio Ferrari, “isto foi um reality show, senhores juízes, Makintach atuou como atriz, não como juíza”.
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Em vídeo exibido durante a sessão, a juíza comentou o projeto. “Vocês não vão acreditar em nada do que eu disser”, reconheceu. “Lamento que não acreditem em mim. Eu não conhecia este material, nunca vi este roteiro, não é meu, não me pertence”.
Mais adiante, ao aceitar seu afastamento, declarou: “Espero que o julgamento possa seguir, ainda que sem mim”, disse. “Eu não conhecia este material e estou tão surpresa quanto todos vocês.”
Com a exclusão de Makintach e a posterior recusa dos juízes Maximiliano Savarino e Verónica Di Tommaso de seguir no caso, o julgamento foi anulado pelo Tribunal de San Isidro. A decisão exigirá a formação de um novo colegiado e o recomeço de todo o trâmite judicial. A nova etapa dependerá do sorteio de outro tribunal.
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Savarino declarou: “É uma decisão ingrata para nós” e acrescentou que “concordamos com o fiscal Patricio Ferrari em que a única responsável por tudo isso é Makintach”. Segundo ele, “o julgamento estava sendo bem desenvolvido por todos, menos por uma pessoa, que foi afastada”.
Tommaso também comentou a decisão e afirmou que “houve uma pessoa que se equivocou e pagou, e está pagando, e seguramente vai ter que continuar dando explicações”, disse. “Mas não é a Justiça. A Justiça não se mancha.”
Circunstâncias da morte de Maradona entram no centro da acusação
Os réus no processo principal são o neurocirurgião Leopoldo Luque, a psiquiatra Agustina Cosachov, o psicólogo Charly Díaz, a médica Nancy Forlini, o coordenador de enfermagem Mariano Perroni, o enfermeiro Ricardo Almirón e o clínico Pedro di Spagna. Todos respondem por “homicídio simples com dolo eventual”. Segundo a acusação, o grupo prestou assistência deficiente, com indiferença e temeridade, cientes do risco de morte que Maradona corria.
O ex-jogador morreu em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, em uma casa na cidade de Tigre, onde fazia uma controversa internação domiciliar. A autópsia constatou que Maradona morreu por um edema agudo no pulmão, causado pela piora de uma insuficiência cardíaca crônica. Também foi identificada uma miocardiopatia dilatada, condição que afeta o funcionamento do coração.
O advogado Mario Baudry, representante de Dieguito Fernando Maradona, declarou à Rádio Nacional Argentina que suspender o julgamento é “uma barbaridade”. O penalista Fernando Herrera afirmou que “o que a juíza fez é muito grave e ocorreu com a pessoa talvez mais importante da história do país, com a repercussão midiática que tem, para um benefício próprio”.
O advogado Gustavo Pascual, que representa Jana Maradona, comentou que “é inexplicável o que aconteceu” e que não consegue encontrar a razão para isso. “Há um sofrimento muito duro. Devemos poder acreditar na Justiça, e isso nos tira toda esperança.”

Para ele, “o grave e o penoso é que temos que começar de novo o julgamento”, disse. “Não há forma de consertar isso se não começarmos novamente. Lamentavelmente, os filhos e as filhas vão ter que reviver essa situação.”
O advogado Miguel Ángel Pierri, defensor de um dos enfermeiros acusados, afirmou que “já víamos que este julgamento era uma bagunça porque do que menos se falava era das causas da morte de Maradona”. Segundo ele, “todas as partes pedimos em conjunto que todos os juízes fossem afastados, não só Makintach, e se os juízes se mantiverem em sua função, vamos apelar”.
Pierri também declarou: “Me parece tudo isso demasiadamente torpe, acho que há algo mais por trás de tudo isso” e desabafou: “Faz cinco anos que estou vinculado a esta causa e tudo está perdido, nada do que foi feito serve”.
O ex-empresário de Maradona, Guillermo Coppola, também criticou: “Não pode descansar em paz”. Para ele, “aparentemente está proibido entrar no julgamento com câmeras ou filmar. Ela foi quem determinou isso, e é tudo muito estranho. De longe, é feio”.
O novo julgamento ainda não tem data para começar e todos os depoimentos precisarão ser repetidos, de acordo com o trâmite judicial. A definição sobre o novo tribunal e cronograma ficará a cargo da Justiça de San Isidro.
Leia também: “O furacão Milei”, reportagem de Carlo Cauti publicada na Edição 225 da Revista Oeste
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