O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, em um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, nesta sexta-feira, 9, em Moscou.
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Lula afirmou que as taxas, como as de 25% sobre aço e alumínio e 10% sobre uma ampla gama de produtos, prejudicam o multilateralismo e o livre-comércio. Ele ressaltou que tais medidas violam a soberania dos países e enfraquecem a ordem internacional baseada em regras.
“As últimas decisões anunciadas pelo presidente dos EUA de taxação de comércio com todos os países do mundo de forma unilateral joga por terra a grande ideia do livre-comércio, joga por terra a grande ideia do fortalecimento do multilateralismo e joga por terra, muitas vezes, o respeito à soberania dos países que temos que ter.”
A visita de Lula à Rússia ocorreu em um contexto de crescente tensão no comércio global e de aproximação entre os dois países. O Brasil tem ampliado suas relações com a Rússia, especialmente nas áreas de energia e fertilizantes.
Em 2023, mais de 20% dos fertilizantes importados pelo Brasil vieram da Rússia. Também em 2023, o Brasil importou 6 milhões de toneladas de diesel russo, o que representa um aumento significativo em relação ao ano anterior.
O comércio bilateral superou US$ 9 bilhões e tem favorecido a Rússia. O Brasil tem um déficit comercial de bilhões de dólares nessa relação comercial.
Enquanto importa produtos de alto valor agregado, o Brasil exporta para a Rússia basicamente carnes (frango, bovina e suína), soja e outros produtos agrícolas, açúcar e café.
Esses produtos têm menor valor por tonelada e são mais suscetíveis a barreiras sanitárias e logísticas. Além disso, o mercado russo, por causa de sanções e instabilidade cambial, não tem sido um grande consumidor de bens industriais brasileiros.
Lula não faz cobranças a Putin
Um dos fatores que fizeram Trump impor tafifas à China é justamente o déficit comercial. O presidente Lula, porém, não fez nenhum tipo de cobrança a Putin em relação ao déficit com a Rússia, que inclusive, em seu governo, já proibiu a entrada de carne brasileira.
Em vez disso, Lula expressou interesse em aprofundar a cooperação com a Rússia em áreas como energia nuclear, propondo o desenvolvimento conjunto de usinas nucleares de pequeno porte. Ambos os países são membros do Brics, grupo que recentemente expandiu sua composição, e discutiram formas de fortalecer a colaboração dentro desse bloco.
“Essa minha visita aqui é para estreitar e refazer, com muito mais força, a nossa construção de parceria estratégica. O Brasil tem interesses políticos, interesses comerciais, interesses culturais, interesses científico-tecnológicos com a Rússia. Por seu lado, a Rússia deve ter muitos interesses com o Brasil.”
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A visita de Lula à Rússia ocorre em meio a críticas internas e tensões diplomáticas, especialmente devido ao fato de Putin ser alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional.
Para o governo brasileiro, a aproximação é válida como parte de sua política externa, voltada para o multilateralismo e a cooperação internacional, ao defender a independência de sua política externa.
No discurso, Lula se refere a valores como o respeito à soberania, ao multilateralismo e à paz. No entanto, ao demonstrar proximidade com Putin (e anteriormente com líderes como Nicolás Maduro ou Xi Jinping), o presidente do Brasil se distancia desses valores na prática.
Putin, por exemplo, é acusado de crimes de guerra na Ucrânia, pelo mesmo tribunal que Lula endossa ao criticar Israel.
Do jeito que a coisa vai, já posso imaginar dois mil fuzileiros navais americanos saltando de paraquedas sobre Brasília para tentar colocar ordem no bordel. Utopia? Sim, com certeza, mas talvez seja prudente ponderar esta possibilidade. Como está escrito no livro ‘A arte da guerra’: “Nunca se deve achar que o inimigo não vem, porque ele vem”. Maduro que o diga.