A madrugada deste sábado, 31, foi marcada por uma série de atos de vandalismo contra instituições judaicas no centro de Paris, reacendendo o alerta sobre a escalada do antissemitismo na França.
A polícia da França identificou pichações com tinta verde em pelo menos três sinagogas, um restaurante kosher e o Memorial da Shoah — também conhecido como Memorial do Holocausto. Os incidentes ocorreram no 4º distrito da capital, tradicional reduto da comunidade judaica, e também em uma sinagoga no 20º distrito.
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Os ataques foram descobertos por volta das 5h15 da manhã (hora local), durante uma ronda policial. Imagens das câmeras de segurança do Memorial do Holocausto mostram uma pessoa vestida de preto realizando o ato por volta das 4h30. Apesar da depredação, não foram encontrados panfletos, mensagens escritas ou reivindicações por parte dos autores.
Na fachada do restaurante “Chez Marianne”, um dos mais tradicionais da comunidade judaica parisiense, foi encontrado um balde com restos de tinta. A sinagoga des Tournelles, a Agoudas Hakehilos e o Memorial da Shoah também amanheceram com marcas semelhantes.
França reage aos ataques
As autoridades sas reagiram com veemência. O Ministério Público de Paris informou que a Polícia Judiciária assumiu a investigação, sob suspeita de “danos motivados por religião”. A prefeita Anne Hidalgo condenou o ataque: “O antissemitismo não tem lugar em nossa cidade nem na República. Pedi à equipe de limpeza que atuasse com urgência. Apresentaremos queixa”.
O presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif), Yonathan Arfi, falou em “muita tristeza e indignação ao ver essas imagens de locais judaicos depredados nesta manhã”.
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Já o ministro do Interior, Bruno Retailleau, classificou os atos como “odiosos” e ordenou reforço na segurança de locais religiosos durante a celebração de Shavuot, entre os dias 1º e 3 de junho. Segundo ele, “mais de 60% dos atos antirreligiosos na França têm motivação antissemita”.
O prefeito do centro de Paris, Ariel Weil, franco-israelense, fez um alerta sobre os riscos de banalizar ataques com forte carga simbólica. “É preciso ter cuidado com esses danos simbólicos, pois eles abrem caminho para a violência simbólica que, como sabemos pela história, pode evoluir para a violência física”, afirmou ao Info.
Weil também pediu cautela nas conclusões das investigações policiais. Ele afirmou que ainda não está claro se os ataques têm motivação antissemita direta ou se foram realizados com a intenção de acirrar tensões.
A França, que abriga a maior população judaica da Europa, vive um aumento expressivo nas tensões ligadas à religião, agravadas pelo cenário internacional, especialmente os conflitos no Oriente Médio. O ataque em Paris reacendeu o debate sobre segurança, intolerância e a necessidade de combater, com firmeza, qualquer forma de ódio religioso.
Alguém por acaso tem notícia de alguma ato israelense contra as mesquitas ?
Não,né ?
Então, de que lado estão os vandalos ?
Se fosse aqui no Brasil esse pichador pegaria uns 30 anos de cadeia pois usou tinta. Aqui batom da 14 anos de cadeia.
Israel desmascarou o Ocidente
Somos todos Israel! O Ocidente, entendido como a civilização europeia com a sua matriz filosófica na Grécia e a sua interpretação do mundo a partir do Novo Testamento da Bíblia, do cristianismo, viveu sempre numa contradição entre os valores que racionalmente erigiu como os seus e que apregoava — uma ética — e a sua prática, subordinada aos interesses. O Ocidente, os seus pensadores e os seus povos, tiveram sempre a noção do pecado enquanto violação dos mandamentos. Os grandes pensadores do Ocidente promoveram o conhecimento do homem enquanto ser racional, mas também enquanto ser ético, que a racionalidade deve ser o alimento da “boa vontade”. A eleição da boa vontade, do bem fazer, como fundamento para os homens serem julgados marcou a rutura entre o cristianismo e o judaísmo. O cristianismo é uma religião (e uma filosofia) de redenção. A redenção cristã é um resgate de uma situação de “fora da lei” (pecado original) que se salva se cumprir os valores pregados por Cristo. A redenção não faz parte da filosofia do judaísmo. No judaísmo não existe a ideia de que o relacionamento entre Deus e os seus fiéis precise ser restaurado. Por isso mataram o Cristo que se apresentou na Palestina a afirmar que vinha à Terra restaurar a ligação entre os homens e Deus, propondo a Paz. A fronteira entre o Antigo e o Novo Testamento é a fronteira entre a Guerra e a Paz. O deus dos judeus é o deus dos direitos dos seus fiéis — o Povo Eleito e a Terra Prometida. Os seus fiéis têm direito a tudo e podem fazer tudo para o conseguir. O deus do cristianismo é o deus dos deveres. O conflito que existe há mais de mil anos entre judeus e cristãos assenta no antagonismo entre direitos e deveres. A filosofia do ocidente pós-socrático funda-se no dever e na ética. Kant é considerado o filósofo do Dever na civilização ocidental. E os ocidentais aceitaram (embora não o tenham praticado) que todo homem, quando diante de uma situação que exija escolha, faz (ou deve fazer) a pergunta: o que devo fazer para bem conduzir minha ação? Está subjacente à pergunta a busca por uma regra de conduta capaz de fornecer meios ao arbítrio para que a escolha seja da melhor ação a praticar. Isso demonstra que o homem ocidental se orienta pela noção do dever e a resposta tem que provir dela. A noção de boa vontade, fundada no princípio do dever, é aquela que se apresenta como regra de conduta na sociedade ocidental. As nossas ações individuais ou coletivas podem ser consideradas sob um duplo ponto de vista: ou de uma vontade conforme à razoabilidade, ou de um ponto de vista de imposição de uma vontade até onde as inclinações e os meios disponíveis permitirem, sem limites. A ação de Israel desde a sua fundação a meados do século vinte tem sido um contínuo atentado aos princípios do cristianismo da civilização ocidental. O Ocidente do pós-segunda Guerra aceitou a corrupção dos seus princípios e ganhos civilizacionais por razões conhecidas: sentimento de culpa pela Inquisição e pelo Holocausto, por interesses estratégicos, financeiros, económicos. O Ocidente tinha duas opções para se relacionar com Israel, ou escolhia o ponto de vista moral do cristianismo — dos deveres — e impunha as suas regras; ou agia motivado pelo princípio do interesse de que a melhor ação é a que sacia o desejo, o principio da prevalência dos direitos. Não deixa de ser chocante ouvir políticos ocidentais referir o Direito Internacional, ou o Direito Comum a propósito do longo conflito entre o Estado Israel e os palestinianos para negar os direitos dos palestinianos e defender os interesses dos israelitas em nome do direito!
A política de Israel na Palestina é muito fácil de decifrar: uma limpeza étnica de um território para ali constituir um Estado totalitário, no sentido em que apenas serão cidadãos com direitos os que tenham o mesmo Deus, que cumpram os mesmos rituais, que se submetam aos mesmos rabis, que considerem os mesmos inimigos, que estejam dispostos a cometer os mesmos crimes em nome do interesse do mesmo Estado do Povo Eleito. O apoio do Ocidente a esta política, com a hipócrita proposta dos dois estados — uma monstruosa falácia — que foi acompanhada com o discurso do “direito de defesa de Israel”, um estado ocupante a defender-se do ocupado! — deu ânimo a Israel para uma longa série de massacres e de crimes, de que o ataque a Gaza é o mais recente e o mais desumano episódio. Mas, a desumanidade da ação de Israel na Palestina conduz a uma conclusão que cada um de nós, os do ocidente, como nos qualificou Camões, responderá de acordo com as suas convicções. O evidente é que o Estado de Israel, criado pelo Ocidente, impôs aos cristãos o Velho Testamento , impôs a sua religião de direito à violência. O Antigo Testamento contém mais de seis mil agens que falam explicitamente sobre nações, reis ou indivíduos que atacam, destroem e matam. Deuteronômio “Quando vocês avançarem para atacar uma cidade, enviem-lhe primeiro uma proposta de paz. Se os seus habitantes aceitarem e abrirem as suas portas, serão seus escravos e se sujeitarão a trabalhos forçados. Mas se eles recusarem a paz e entrarem em guerra contra vocês, sitiem a cidade. Quando o Senhor, o seu Deus, a entregar em vossas mãos, matem ao fio da espada todos os homens que nela houver. Mas as mulheres, as crianças, os rebanhos e tudo o que acharem na cidade, será de vocês; vocês poderão ficar com os despojos dos seus inimigos dados pelo Senhor, o seu Deus.” Já seria uma derrota civilizacional o Ocidente aceitar esta barbárie, que podia ser a descrição do que está a acontecer em Gaza, mas ela está associada à derrota do Estado Liberal que foi erigido na Europa à custa de tantos sacrifícios e sangue, da civilização associada aos direitos cívicos e políticos, à separação da religião do Estado, à revolução sa, às modernas repúblicas. O apoio “incondicional” a Israel é o apoio a um estado totalitário que tem os mesmos fundamentos dos estados islâmicos. Os políticos ocidentais, os intelectuais do sistema, os seus propagandistas estão a promover uma ordem e um tipo de sociedade de violência, de negação da liberdade, de sujeição clerical, uma sociedade “talibânica”, que não se distingue da sociedade talmúdica ou corânica. Apoiar Israel é uma regressão política e civilizacional. Avanço seria integrar Israel no grupo dos estados laicos e igualitários, promover o fim do duplo apartheid, religioso e étnico. Racista, em suma. Das três religiões do “Livro” apenas o cristianismo separou a religião do Estado, essa separação foi o interruptor que permitiu ao Ocidente tornar-se simultaneamente a sociedade tecnologicamente mais avançada do planeta, socialmente mas igualitária e politicamente mais diversificada. É desta civilização que estamos abdicar. É esta assunção de derrota civilizacional que está em causa com o apoio a Israel, que a seguir a Gaza irá atacar a Cisjordânia, até reinventar e impor um fantasioso grande Israel! É assim que vocês tratarão todas as cidades distantes que não pertencem às nações vizinhas de vocês.