Nesta quinta-feira, 29, o morador de rua Flávio Soldani, de 59 anos, preso por causa do 8 de janeiro, deixou o Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos (SP).
Oeste revelou que Soldani estava no local apesar de um alvará de soltura expedido havia quase dois meses pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O juiz do STF assinou o documento em 11 de abril.
A alegação da unidade prisional para manter Soldani no cárcere era a de que o homem não tinha endereço fixo. Por isso, não poderia sair.
Dessa forma, a advogada Taniéli Telles, que o defende, encontrou uma pessoa, em São Paulo, que ajudará a pagar três meses de aluguel para Soldani tentar recomeçar a vida. O mendigo poderá, agora, cumprir aos requisitos do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) que firmou com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Quem assina o ANPP da PGR confessa crimes, presta serviço comunitário, paga multa e assiste a um “curso da democracia”.
O morador de rua do 8 de janeiro e sua ida a Guarulhos?

Sem nenhuma motivação política, Soldani frequentava os acampamentos montados nas cercanias do Quartel-General de Brasília para comer e dormir. Ele não encontrou condições de se manter na capital federal, desde que chegara de Natal (RN) em busca de uma vida nova. Acabou detido pela polícia no dia seguinte ao protesto na Praça dos Três Poderes.
À época em que negociou o ANPP com a PGR, Soldani era apoiado pela Defensoria Pública da União (DPU). A DPU tentava encontrar condições para ele cumprir a tratativa.
“Não tenho dinheiro para comer”, relatou Soldani, durante uma audiência com um juiz auxiliar do gabinete de Moraes. “Como vou pagar multa? Para varrer uma rua, preciso, antes, ter dormido um pouco e me alimentado também, além de possuir um local para guardar as minhas coisas, o que não tenho hoje.” Na ocasião, ao STF, a DPU observou que o homem estava “debilitado fisicamente, com 14 quilos a menos que o seu peso habitual”.
Soldani foi ouvido pelo magistrado que trabalha com Moraes, após ter sido preso preventivamente, em 16 de março, na cidade de São Paulo. O homem esteve na manifestação pela anistia, na tentativa de conseguir uma oportunidade de emprego fixo, devido à trajetória malsucedida com bicos, desde que saiu da Papuda, onde ficou 11 dias. Um policial na Avenida Paulista, contudo, acabou levando Soldani a uma delegacia ao receber uma denúncia anônima. Os agentes constataram que havia um mandado de prisão do STF, em virtude de violações de cautelares. O homem justificou o descumprimento: “Não tenho endereço fixo, por morar na rua”. Sobre questionamentos acerca da tornozeleira, informou que o equipamento apresentou problemas até ser carregada. Dentro de alguns dias, acabou indo parar em Guarulhos.
Leia também: “O preço da liberdade nas mãos do STF”, reportagem publicada na Edição 267 da Revista Oeste
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Certamente, deve ter sido um grande orgulho e um imenso prazer para Alexandre de Moraes, na sua visão distorcida da realidade pela psicopatia sádica, ter prendido e torturado psicologicamente um morador de rua inocente e miseravelmente abandonado pela família e pela sociedade. Talvez tenha sido uma escolha pessoal, quem sabe, porém, muito provavelmente, sem intenção de fazer mal a ninguém.
Só depois que a oeste denunciou ,ele foi solto. Quantos mais estão assim?