Um documentário produzido pelo jornal britânico Financial Times e publicado nesta quarta-feira, 4, traça um retrato detalhado da Petrobras e destaca seu papel estratégico na economia brasileira, sua trajetória marcada por escândalos e seus atuais dilemas sob o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Intitulado Petrobras: Abastecendo o Futuro ou Presa no ado?, o filme questiona se a estatal caminha para o futuro ou repete os equívocos de istrações anteriores.
Fundada na década de 1950 sob o slogan “O petróleo é nosso”, a Petrobras evoluiu de uma empresa que começava perfurações em terra até se tornar uma das maiores operadoras de petróleo em águas ultraprofundas no mundo.
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“Ela é uma operadora extremamente competente em condições muito difíceis de águas ultraprofundas, uma expertise construída ao longo de décadas”, afirma Jonathan Wheatley, ex-correspondente do Financial Times no Brasil.
O documentário destaca a relevância da estatal para a economia nacional. A Petrobras é o maior contribuinte de impostos do país, e o petróleo bruto se tornou a principal exportação brasileira, com a empresa responsável por grande parte dessa receita.
“Ela emprega centenas de milhares de pessoas, está listada em bolsas de valores no mundo todo, e seu valor de mercado gira em torno de US$ 70 bilhões”, descreve Michael Pooler, correspondente do jornal no Brasil.
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Os impactos da Lava Jato
No entanto, o filme também relembra o ado recente da companhia, marcado por escândalos. O principal deles foi a Operação Lava Jato, descrita como “o maior caso de corrupção internacional da história”, segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
De acordo com o documentário britânico, “um cartel de empreiteiras pagava propina para obter contratos com a Petrobras, e políticos e executivos de alto escalão recebiam comissões em troca”.
A operação resultou na prisão de empresários de grandes construtoras e atingiu diretamente o presidente Lula, condenado pelo caso do triplex na orla de Guarujá, cidade no litoral de São Paulo. “Ele foi condenado, mas a condenação foi anulada”, afirma Wheatley.

A gestão de Dilma Rousseff também é mencionada no contexto de intervenções econômicas. “Durante o governo Dilma, ela interveio pesadamente não apenas na Petrobras, mas em toda a indústria”, diz o documentário.
Nesse período, a empresa foi pressionada a manter os preços dos combustíveis artificialmente baixos, o que resultou em perdas bilionárias. “Isso custou dezenas de bilhões de dólares”, lembra Pooler.
A partir de 2015, a Petrobras ou por um processo de “alta alavancagem, baixos preços do petróleo e uma dívida que precisava ser reduzida substancialmente”, comenta Victoria Harling, gestora de fundos da Ninety One. Nos anos seguintes, a empresa focou as operações do pré-sal e se tornou a maior pagadora de dividendos corporativos do mundo.
Sob o governo Jair Bolsonaro, houve tentativa de privatização parcial e venda de ativos. O objetivo era torná-la uma companhia mais enxuta, centrada em exploração e produção. Com a volta de Lula ao poder, essa política foi revertida.
O interesse de Lula na Petrobras
“Petrobras está sendo novamente chamada a cumprir o papel de motor da expansão econômica”, observa o documentário. Um exemplo é a retomada de investimentos na Refinaria de Abreu e Lima, no Recife, e no Estaleiro Atlântico Sul, ambos símbolos da política de reindustrialização da Região Nordeste.
Esses projetos, porém, já haviam gerado prejuízos significativos no ado. “Fizemos um cálculo: em 2018, o setor de refino gerou uma perda econômica de US$ 6 bilhões para a Petrobras”, recorda Roberto Castelo Branco, ex-presidente da companhia.
Apesar disso, o governo federal busca reativá-los por seu potencial de geração de empregos e impacto regional. “Recife é uma capital regional estratégica, com um grande porto natural que atraiu um polo industrial em torno da Petrobras”, destaca Wheatley.
A Petrobras hoje é uma empresa de capital misto. Apesar de investidores privados deterem cerca de dois terços do capital, o governo federal mantém controle com maioria dos votos. Essa estrutura gera conflitos recorrentes.
“Há dois grupos de acionistas com interesses que podem não estar alinhados”, afirma Wheatley. “Pode haver um governo que concorda com os minoritários sobre focar o que a empresa faz bem, ou um governo que decide realizar projetos deficitários.”
A instabilidade na liderança da empresa também é citada como um obstáculo. “A média de permanência de um presidente é de um ano e meio”, afirma Castelo Branco. “Nenhuma empresa no mundo consegue vencer com esse nível de volatilidade.”
No atual contexto, a Petrobras ainda gera lucros robustos com o pré-sal, o que proporciona uma margem de segurança para novos investimentos. Entretanto, parte do mercado teme uma repetição do ciclo anterior. “Quando a empresa expandiu seus gastos, nem todos os projetos deram certo, seja por corrupção, seja por estouros de orçamento e abandono”, afirma Pooler.
Por fim, o documentário lança a dúvida que o título sugere: o novo protagonismo político da Petrobras será sustentável? “Essa é realmente uma hora decisiva para a empresa”, conclui Wheatley. “Ela já esteve nesse ponto antes. A questão é se vai funcionar desta vez.”
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O país indo a bacarrota e muitos eleitores ainda insistindo em votar no descondenado. Esse país não tem como dar certo.