O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) suspeita que o escritório do advogado Nelson Wilians teria movimentado R$ 4,3 bilhões em operações financeiras suspeitas, de 2019 a 2024. O empresário beneficiado nas transações, Maurício Camisotti, é um dos investigados no escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
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Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) enviados à Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril contra os descontos ilegais no INSS, apontam movimentações da banca de Wilians. A investigação envolve também o empresário Maurício Camisotti, suas empresas e associações ligadas a ele, que teriam fraudado filiações de aposentados.
Segundo o portal Metrópoles, o Coaf já havia revelado pagamentos de mais de R$ 15 milhões feitos por Nelson Wilians a Camisotti, investigado como possível recebedor final dos valores descontados indevidamente. O site ainda afirma que o nome de Wilians não consta como investigado na operação da PF.
Operações apontadas como suspeitas pelo Coaf
A maior movimentação considerada suspeita pelo Coaf aconteceu de setembro de 2021 a abril de 2022, com um total de R$ 1 bilhão, sendo R$ 529,8 milhões em créditos e R$ 522,8 em débitos. No primeiro período, de outubro de 2019 a junho de 2020, foram R$ 581,7 milhões, segundo os relatórios do Coaf enviados à Polícia Federal. Já de outubro de 2023 a julho de 2024, período que compreende o auge da farra dos descontos do INSS, a banca de Wilians movimentou R$ 883 milhões.
Advogado tem vida de luxo
Nelson Wilians é dono de um grande escritório de advocacia. Nas redes sociais, ele não faz questão de esconder o estilo de vida em alto padrão, exibindo imóveis, aviões, carros de luxo e viagens.
Ainda segundo o Metrópoles, Wilians era quem fazia os rees a Camisotti, como pessoa física ou por meio de sua banca de advocacia. Wilians atua diretamente como advogado de Camisotti, de empresas e de uma associação ligada ao empresário.
Em uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, o relatório de inteligência do Coaf foi concluído e enviado a investigadores, apontando um comportamento financeiro de Camisotti incompatível com o faturamento médio mensal, o que pode mostrar que parte do faturamento esteja na informalidade.

O mesmo documento mostra que a corretora de seguros do empresário pagou R$ 1 milhão ao lobista Antonio Carlos Antunes, o “Careca do INSS”, que atua em nome de associações que praticavam os descontos no INSS.
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As transações, feitas em sua maior parte de 2016 a 2020, chegam a um total de R$ 12 milhões. Nesse período, as empresas ligadas a Camisotti, como a Prevident, e a banca de Nelson Wilians eram prestadoras de serviços do Geap, plano de saúde dos servidores públicos federais.
Em 2019, o Geap rescindiu os contratos com Camisotti e Wilians sob o argumento de que davam prejuízo. Batalhas judiciais entre o plano de saúde dos servidores, Camisotti e Wilians se arrastam até hoje no Judiciário de Brasília. Nessa briga, inclusive, o advogado já defendeu a Prevident contra o Geap.
Nesse período, Camisotti criou entidades para efetuar descontos de mensalidade associativa de aposentados, direto na folha de pagamento, via acordo com o INSS. Wilians ou a advogar para uma das associações, a Ambec, que faturou cerca de R$ 30 milhões mensais.
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Além das transações milionárias, o relatório do Coaf também revelou um negócio que une Camisotti e Wilians e envolve mansões em uma das regiões com o metro quadrado mais caro de São Paulo. Segundo o documento, em novembro de 2020, o empresário adquiriu um imóvel no Jardim Europa, por R$ 22 milhões. A casa no bairro nobre paulista se tornaria a nova residência de Nelson Wilians.
Nelson Wilians se defende
Em nota enviada ao portal Metrópoles, Nelson Wilians, por meio de assessoria, negou que os valores sejam incompatíveis com a atuação do escritório.
Diante do vazamento indevido e possivelmente ilegal de informações protegidas por sigilo, envolvendo movimentações financeiras de uma das contas bancárias do Nelson Wilians Advogados, esclarecemos que os valores mencionados são plenamente compatíveis com a estrutura e a atuação do escritório.
As transações financeiras são legítimas, de caráter estritamente privado e não guardam qualquer relação com investigações sobre fraudes ou eventuais práticas criminosas.
Limita-se à prestação de serviços jurídicos, sem se confundir, portanto, a figura do advogado com a do seu cliente. Os valores pagos a ele referem-se à compra de um imóvel, em transação privada, formalizada por contrato e devidamente registrada. Sem qualquer relação com a atividade profissional da banca.
O que diz Maurício Camisotti
Também em nota enviada ao portal Metrópoles, a defesa de Maurício Camisotti nega qualquer participação nas fraudes do INSS e afirma que o empresário contratou uma investigação privada para provar a inocência de suas empresas.
Ainda segundo a defesa de Camisotti, as negociações entre ele e Wilians não têm nenhuma relação com as atividades empresariais.
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