No Ministério da Saúde entre março de 2021 e dezembro de 2022, o médico cardiologista Marcelo Queiroga enfrentou uma das piores crises que um gestor poderia istrar em sua carreira. Ele conduziu o timão da pasta durante a pandemia de covid-19.
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Naquele momento, o consórcio de imprensa e posts nas redes sociais chamavam o então presidente Jair Bolsonaro de “genocida”, por supostamente não haver comprado as vacinas que venceriam o novo coronavírus, apesar de o Brasil ser um dos primeiros países a imunizar a população contra a doença.
A Oeste, Queiroga comentou sua atuação à frente da pasta. O médico também falou sobre o desempenho do governo do presidente Lula em relação à saúde no país. Também mencionou a demissão de Nísia Trindade.
A seguir, os principais trechos da entrevista com o ex-ministro Marcelo Queiroga.
Como o senhor avalia a atuação de Nísia Trindade no Ministério da Saúde?
É uma atuação aquém do que se esperava. Nísia é uma pessoa que tem uma identificação com a saúde pública, apesar de não ser uma profissional da área. Ela dirigiu a Fundação Oswaldo Cruz, por dois períodos: a primeira vez indicada pelo ex-presidente Michel Temer; a segunda, conduzida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Na última oportunidade, coincidiu com a pandemia de covid-19. A campanha de vacinação contra a doença praticamente foi feita em minha gestão. Nísia tinha um papel importante à frente da Fiocruz, não só em relação às vacinas. Ela trabalhou com outros insumos estratégicos, como testes e até mesmo na assistência por meio da estrutura do Instituto Nacional de Infectologia, que foi praticamente refeito na gestão de Bolsonaro. Nísia era alguém muito ligada ao nosso trabalho e tínhamos uma expectativa positiva em relação à gestão dela.
O senhor conversava com Nísia naquele tempo?
Sim. Era uma pessoa que tinha o livre ao nosso gabinete. Uma profissional que exercia um papel estratégico no enfrentamento da crise. No entanto, quando assumiu a pasta no governo Lula, resolveu vestir uma roupa de militante de esquerda. Abraçou pautas identitárias. Acusou Bolsonaro de destruir o sistema econômico da Saúde. Isso, efetivamente, não procede. Logo no começo da gestão, Nísia fez um espetáculo ao referir-se aos ianomâmis. Ela, contudo, esqueceu de mencionar que o número de mortes de indígenas aumentou no primeiro ano do terceiro mandato de Lula.

Como o senhor avalia a sua trajetória na pasta?
Fortalecemos o Sistema Único de Saúde (SUS). Ampliamos os recursos. Criamos uma secretaria específica para atenção primária. Deixamos um legado de mais 7 mil leitos de terapia intensiva para o sistema de saúde. Triplicamos a capacidade de vigilância do SUS. Praticamente triplicamos os Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde. Os órgãos estão localizados em todo o Brasil, principalmente nas áreas de fronteira. Esse discurso de que Bolsonaro destruiu a Saúde não procede.
Como o senhor avalia a mais recente troca no comando da pasta?
O governo Lula fritou Nísia. Parece que ela estava apenas guardando o lugar para Alexandre Padilha voltar para lá. Esse último foi muito mal na Secretaria de Relações Institucionais, tanto que Lula o tirou de lá. Padilha já dava as cartas para voltar ao comando da pasta da Saúde. Nísia ou a não ser mais interessante para o governo.
O senhor pode fazer uma comparação entre sua gestão e a da Nísia?
Estive na gestão da Saúde em tempo de guerra. Tínhamos uma crise sanitária no pico. A segunda onda foi a mais mortal. Aquele foi o período mais crítico da pandemia. Também havia uma crise institucional — uma Comissão Parlamentar de Inquérito (I) vigorava. Não é simples istrar um ministério com uma I em andamento. Tínhamos a Organização Mundial da Saúde (OMS), que criava notícias negativas em relação ao Brasil, como se o país fosse um foco de disseminação da doença. Minha gestão buscava resolver os problemas de forma pragmática, sem aderir àqueles conceitos da esquerda, que queria fechar tudo e o resto resolver depois. O Brasil foi um dos cinco países que mais vacinas distribuiu. Seis meses depois do começo de minha gestão, reduzimos em 90% o número de mortes por covid-19. Fortalecemos o sistema de saúde e encerramos a emergência de saúde pública de importância nacional em maio de 2022. Ou seja, um ano antes de a OMS encerrar a pandemia. A Nísia, por sua vez, priorizou pautas identitárias, como a legalização do aborto. Forçou as pessoas a se vacinarem. Hoje, contudo, vemos que os próprios ministros de Lula não tomaram todas as doses da vacina. Nísia reduziu a contratação dos agentes comunitários de endemias. Reduziu os gastos com campanhas contra a dengue. Imagina se isso acontecesse na minha gestão. Iriam comer o meu fígado.

Leia mais: “Dengue nas quatro estações”, reportagem de Myllena Valença e Rachel Díaz publicada na Edição 251 da Revista Oeste