A cada dois anos, a história sempre se repete: à medida que o calendário eleitoral avança, a fé dos políticos ressuscita. É aquele período em que os candidatos se lembram de ir à missa aos domingos, fazem selfie com pastores evangélicos, incorporam trechos da Bíblia ao vocabulário cotidiano, tornam o figurino mais conservador. Até os comunistas aprendem a rezar.
Por causa das restrições da pandemia, o Brasil não tem mais um censo atualizado sobre esse tema. O levantamento deveria ter sido feito em 2020, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adiou o trabalho de campo para agosto deste ano. A última vez que uma pesquisa sobre religião no país foi feita, há dois anos, o instituto Datafolha revelou que metade da população se declarava católica e 30%, evangélica.
O fato é que, acredite-se ou não no Datafolha, os estatísticos do IBGE há tempos afirmavam, em projeções desde 2010, que católicos e evangélicos teriam o mesmo número de fiéis até o final desta década. Juntos, representariam 80% da população.

Diante desses dados, não é preciso consultar nenhum cientista político para confirmar o mantra dos marqueteiros políticos: em campanha, tem que rezar e ponto. Talvez isso explique, por exemplo, uma das imagens que marcaram a corrida presidencial de 2018, quando a comunista millennial Manuela d’Ávila cerrou os olhos em prece ao lado de Fernando Haddad. Entusiasta da campanha feminista “Lute como uma garota”, Manuela a longe de qualquer bandeira conservadora. Virou um dos assuntos mais comentados no Twitter na semana ada, ao comemorar a aprovação do aborto até 24 semanas de gestação na Colômbia.
Manuela D’Ávila fez um tweet pra comemorar a decisão na Colômbia que permitiu o aborto até 24 semanas. Lula ligou pra ela e lembrou que a Esquerda está se escondendo como lobo em pele de cordeiro. Apagou. O print é eterno!
Em outubro, ela estará na igreja igual 2018 #AbortoNão pic.twitter.com/ZD6GFhC29K
— Rinaldi Digilio (@rinaldidigilio) February 22, 2022
A postagem gerou repúdio nas redes sociais. Jornais noticiaram que o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva telefonou pedindo para que ela apagasse a publicação, porque isso prejudicaria não só a sua campanha, mas a de boa parte dos seus aliados.
Opus Dei
O que Manuela pensa nunca foi um problema para o PT, muito menos para a legião de progressistas e feministas de esquerda. Mas é um problema para Lula. Tampouco foi um ato isolado. O ex-presidente sempre detestou falar sobre religião. Em novembro do ano ado, o PT editou um vídeo dele, acompanhado de Gleisi Hoffmann, presidente da sigla, e da deputada Benedita da Silva (RJ), com dois pastores evangélicos. O desconforto de Lula é visível (assista abaixo).
A gravação até que seguia bem, até Gleisi abrir o jogo: “Na nossa caminhada, nunca fizemos disputa religiosa. Sempre respeitamos todas as religiões, a fé e o credo das pessoas”, disse. “Nossa disputa sempre foi política.” O corte na edição foi drástico porque a fala não era mais aos evangélicos numa live dedicada exclusivamente a esse público. Nem Lula conseguiu sustentar. “Precisamos de mulheres e homens de todas as religiões”, disse.

A distância entre o PT e as pautas conservadoras é também um dos entraves para a chapa de Lula com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin como seu vice. Apesar do namoro nas manchetes dos jornais, o ex-tucano tem enfrentado questionamentos de antigos aliados do interior paulista se teria abandonado a Igreja. Alckmin é católico fervoroso e, nas campanhas anteriores, teve de explicar sua relação com a Opus Dei — prelazia mais conservadora da Igreja Católica.

A reportagem de Oeste ouviu pastores e líderes evangélicos na Câmara dos Deputados sobre qual candidato à Presidência se aproxima mais das chamadas pautas inegociáveis. A resposta foi unânime: o atual presidente.
“Momento de fé e meditação”
“Ideologicamente, Jair Bolsonaro é alinhado em 90% com tudo o que nós pensamos”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder da bancada evangélica na Câmara. “A esquerda deveria ter vergonha e aprender a fazer política de verdade, respeitando o que ela pensa. É desrespeito se aproximar da igreja e de líderes locais em período eleitoral.”
O deputado-pastor Marco Feliciano (PL-SP) segue a mesma linha. “É uma aproximação sorrateira da esquerda. Quando eleitos, foram pedir a bênção de Fidel Castro e Nicolás Maduro.”
Segundo os parlamentares, a trincheira no Congresso será a mesma na próxima legislatura, independentemente do resultado nas urnas: impedir qualquer flexibilização sobre aborto e drogas, barrar a legalização de jogos, a linguagem neutra nas escolas (“todos, todas e todes”) e defender o endurecimento da legislação penal — especialmente a redução da maioridade para 16 anos. Bolsonaro concorda com todas elas — no caso dos jogos, a única que pode avançar neste ano no Congresso, já afirmou que vetará.
“Com exceção dos ‘progressistas’, que defendem pautas identitárias, todo o restante do eleitorado tende a ser conservador”, diz o advogado Thiago Rafael Vieira, que dirige o Instituto Brasileiro de Direito e Religião e tem doutorado sobre o Estado constitucional e liberdade religiosa. “Essa maioria dos eleitores é a favor de pautas morais, pró-vida, defende liberdades civis e econômicas, é contra a ideologia de gênero. São pessoas que não são religiosas, são conservadoras.”
Essas são pautas, por exemplo, que o sempre presidenciável Ciro Gomes (PDT) provavelmente nunca sustentaria fora da campanha eleitoral. A foto abaixo, ao lado do folclórico Cabo Daciolo num culto, não tem muita explicação. A legenda no Instagram diz: “Momento de fé e meditação com Giselle (sua esposa) e Cabo Daciolo no culto na Igreja do Senhor Jesus, em Fortaleza”.

O ex-juiz Sergio Moro, que ainda não conseguiu se firmar como o nome da “terceira via” contra Lula e Bolsonaro, também já saiu em busca do voto religioso. No início do mês, redigiu uma “carta aos cristãos”, com 14 tópicos. Disse que se compromete a combater a sexualização precoce de crianças e a ampliação das possibilidades de aborto.
Outro dado importante é o crescimento da frente evangélica no Congresso Nacional. Em 2019, quando os deputados tomaram posse, a bancada alcançou seu maior número desde a redemocratização: 196 deputados, quase 40% da Casa. Não é exagero afirmar que, se o grupo votar unido, a aprovação de um projeto de lei é quase certa.
“A minha impressão é que o Congresso vai aumentar o número de religiosos neste ano”, disse Thiago Rafael Vieira. “Esse assunto nunca esteve tanto em voga, e nesse sentido o voto religioso terá um grande peso”,
Ele não é o único que sustenta essa tese. A migração da base de Bolsonaro para o PL e a guinada conservadora do PTB, além de PP, Republicanos e PSC, levam à conclusão de que a possibilidade de a frente evangélica ter metade da Câmara no ano que vem é real. No Senado, como só há chance de renovação de um terço das cadeiras, o perfil deve permanecer o mesmo — de dez a 15 representantes. Em 2022, Deus estará nas urnas como nunca.
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ESSES IDIOTAS, ACHAM QUE ENGANAM A QUEM? SÓ SE FOR OUTROS IDIOTAS!!!
Cabo Daciolo lendo a bíblia com Ciro Gomes, você não tem vergonha nesta sua cara?
Estranho mesmo é o ex governador Alckimin que como ex tucano sempre irei, sendo um político conservador e extremamente religioso estar compondo chapa com LULA para presidente. Ou parou de rezar, ou pior, pretende dar um golpe no PT, com a conivência do LULA. Qualquer dessas condições não é apropriada para um homem de extrema fé católica. Entendo que Alckimin se não tivesse cometido esse desgaste de sua imagem, poderia ser vice é de Bolsonaro para levar ex tucanos centro direita a reeleição do presidente em 2022, e, em 2026 inverter a chapa para Alckimin/Bolsonaro.
Penso que seria um período de relevante democracia e alta prosperidade para o pais.
Excelente texto. Parabéns. Quem se diz cristão, católico, protestante e vota na esquerda para mim não o é de jeito nenhum. É inconcebível se religioso e votar em esquerdopata.
Ocorre que, possivelmente por fatores culturais, grande parte dos petistas, contraditoriamente não sabem que o PT é um partido comunista, que nunca assumiu esse nome por fatores eleitorais. É verdade que, possivelmente, Lula não é ateu nem religioso, talvez nem comunista, apenas vive a conveniência do momento, de cada momento.
A única cerimônia religiosa que a esquerda aceita é a pajelança (em sentido figurado) para unir qualquer um que seja contra Bolsonaro e tentar ganhar votos. Tais aliados de ocasião serão – claro – descartados no instante seguinte, como sempre fizeram as esquerdas com os otários que lhes apóiam.
Tenho certeza que não tem nenhum nenhum cordeirinho na política, política e religião não combina, Cristo foi conhecer Pilatos porque o levaram preso , senão nunca teria colocado os pés onde tem o poder da carne,e quem falou com Cristo foi Pilatos e não Cristo,
Religiao e sobre salvação da alma, política é sobre a carne,
Quando os judeus , oprimidos pelo domínio romano , vieram ao encontro de Jesus para torna-lo rei , ele se afastou e disse
” Meu reino ( governo ) não faz parte deste mundo .”
Política partidária e religião não deveriam estar na mesma prateleira .
É apenas a minha opinião , evidentemente .