Milhares de órfãos de Saigon foram levados para os Estados Unidos e outros países ocidentais (incluindo Austrália, França, Alemanha Ocidental e Canadá) diante da queda iminente do Vietnã do Sul, em 1975. Essa evacuação foi autorizada no dia 3 de abril pelo presidente americano Gerald R. Ford e ficou conhecida como Operação Babylift. Dois dias depois, Ford recebeu um avião cheio de crianças no Aeroporto Internacional de São Francisco.
A iniciativa surgiu depois de um pedido da Organização das Nações Unidas (ONU), pouco antes da queda de Saigon, bem como de agências do Serviço de Adoção Internacional. A Operação foi realizada às pressas, de maneira descuidada e sem muito planejamento.
Os orfanatos de Saigon dependiam de suprimentos do exterior, inclusive comida, que, quando deixaram de estar disponíveis, colocaram em risco a vida dos pequenos. Trabalhadores humanitários americanos no Vietnã do Sul estavam em busca de um voo para levar as crianças sob seus cuidados para um local seguro, mas os voos comerciais haviam cessado. Quando militares os convidaram para participar da Operação Babylift, os voluntários aceitaram com gratidão.



No dia 4 de abril, o primeiro avião de carga da operação (um Lockheed C-5A Galaxy, da Força Aérea americana), que carregava 250 crianças pequenas com destino aos Estados Unidos, caiu apenas 12 minutos depois da decolagem. Os pilotos tentaram um pouso de emergência na base aérea de Tan Son Nhut, mas sem sucesso. O impacto esmagou o convés de carga, onde estavam quase todos os órfãos. Entre bebês e voluntários, 143 pessoas morreram. Essa tragédia quase encerrou a operação.

Quando soube que levaria mais de uma semana para evacuar os sobreviventes por causa da falta de transporte militar aéreo, o empresário americano Robert Macauley fretou um Boeing 747 da Pan American World Airways e providenciou a saída de 300 crianças órfãs do país. Macauley hipotecou sua casa para pagar a viagem. O fundador da Playboy, Hugh Hefner, também contribuiu com um avião fretado para resgatar as crianças vietnamitas.
Estima-se que mais de 3,3 mil bebês e crianças, a maioria com idade menor que 2 anos, tenham sido transportados por via aérea e adotados por famílias ao redor do mundo. A operação, no entanto, foi controversa. Alguns a viam como um ato humanitário, enquanto outros criticaram o governo por presumir que as crianças estariam melhor na América. Críticos em Washington também questionaram as motivações políticas do governo Ford.
O mais perturbador dessa operação foi que se descobriu mais tarde que muitas das crianças não eram órfãs. No Vietnã, famílias pobres às vezes colocavam seus filhos em orfanatos quando não podiam alimentá-las. Nesses casos, os pais frequentemente os visitavam e não pretendiam entregá-los. No entanto, à medida que os comunistas avançavam para o Vietnã do Sul, rumores sobre o que eles fariam com as crianças eram obscuros e temerários. As condições de vida pioraram significativamente. A comida era escassa, e a gasolina era absurdamente cara. Muitos sul-vietnamitas estavam desesperados para escapar. Havia rumores de que os filhos de soldados americanos com vietnamitas corriam ainda mais perigo.




Não foram resgatados apenas bebês em Saigon. Dezenas de milhares de refugiados tentaram escapar pelo mar, em pequenos barcos em direção às bases da Marinha no Mar da China Meridional, ou em navios para as Filipinas e além. Outros milhares escaparam pelo ar na maior retirada aérea da história. O transporte aéreo de refugiados vietnamitas abrangeu uma série de operações sobrepostas que são difíceis de separar: Babylift, New Life, Frequent Wind e New Arrivals. Nessas operações, a Força Aérea, em conjunto com a Marinha e contratantes privados, transportou mais de 50 mil refugiados do sudeste da Ásia para ilhas no Oceano Pacífico e, eventualmente, para novos lares nos Estados Unidos.
A operação terminou no dia 26 de abril, com a ocupação do Aeroporto Tan Son Nhat pelas forças norte-vietnamitas. Quatro dias depois, o Vietnã do Sul seria unido ao Vietnã do Norte sob a bandeira comunista e deixaria de existir. Hoje, as crianças da Operação Babylift contam com o e da ONG Operation Reunite para encontrar familiares no Vietnã por meio de testes de DNA.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
Leia também “Os Guerreiros de Terracota”
Ótima coluna.
Muito obrigada, Candido
Muito interessante! Essas fotos da Daniela sempre nos relatam muito da história que aos poucos é esquecida . Excelente trabalho!
Obrigada pela mensagem, Valesca. 🙂
As publicações de Daniela Giorno são imperdiveis.
Obrigada, José Pedro 🙂
As matérias da Daniela Giorno são espetaculares.
Fico feliz em saber, Renato 😉
Essa Operação Babylift é controversa… eu acho que teve mais pontos positivos que negativos