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Tel Aviv, Israel, após ataque do Hamas que deixou quase 1,2 mil mortos e centenas de reféns | Foto: Yehuda Bergstein/Shutterstock
Edição 263

Uma ruptura selvagem na nossa civilização

Um novo relatório não deixa dúvidas: o dia 7 de outubro foi um ataque hiperviolento contra os judeus e a humanidade

Brendan O'Neill, da Spiked
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Reduziram judeus a cinzas. Em 2023, um exército fascista matou judeus queimados. Os nomes desses judeus eram Ram Itamari, 56 anos, gerente de transportes, e sua mulher, Lili Itamari, 63 anos, professora. Os dois estavam em casa no kibutz Kfar Aza, ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, quando o grupo de antissemitas apareceu. Homens armados viram os judeus por uma janela e atearam fogo na casa. A temperatura do incêndio foi tão alta que, quando as autoridades israelenses finalmente chegaram, não encontraram nenhum vestígio dos corpos do casal. Os arqueólogos levaram três semanas vasculhando a fuligem até encontrar um pedaço de osso. O DNA foi testado. Eram eles.

Estamos no século 21 procurando restos mortais de judeus entre as cinzas. Depois de décadas do grito “nunca mais”, a humanidade mais uma vez se viu vasculhando, nos restos escurecidos de uma casa, os restos incinerados dos judeus que viviam ali. Esse detalhe do novo relatório parlamentar do Reino Unido sobre a barbárie de 7 de outubro deveria arrepiar os cabelos de todos que o lessem. Pois ele é o eco mais claro do 7 de outubro, entre milhares de ecos claros, das atrocidades nazistas do século ado. Esse relatório não deixa dúvidas: o 7 de outubro foi mais do que terrorismo, mais do que um crime de guerra; foi uma ruptura selvagem da própria civilização humana.

O Relatório da Comissão Parlamentar de 7 de Outubro, supervisionado pelo historiador Lord Roberts, é um documento essencial e terrível. Ele atesta, em detalhes meticulosos e sombrios, o festival de violência antissemita realizado pelo Hamas e seus aliados em 7 de outubro. É um relato forense, com mais de 300 páginas, de todos os crimes cometidos por esses exércitos de antissemitas naquele dia tão sombrio. E dá nome e presta homenagens aos judeus e a outras pessoas que foram massacradas. “Fizemos isso para que as gerações futuras não sejam enganadas sobre o real tamanho e o horror do massacre”, diz Roberts. Esse relatório é um navio da verdade nas águas revoltas de negação e apologismo do Ocidente.

Relatório liderado por Lord Roberts detalha o massacre de 7 de outubro e denuncia a negação e o revisionismo no Ocidente | Foto: Reuters/Mariana Nedelcu

Ele expõe todos os fatos brutais. E nos conta que 1.182 pessoas foram assassinadas e mais de 4 mil ficaram feridas. Dos mortos, 863, ou 73%, eram civis. Duzentas e cinquenta e uma foram feitas reféns, 210 delas vivas, 41 mortas. São 41 cadáveres, a maioria de judeus, arrastados para Gaza, troféus do ataque. Mais de 90% dos mortos e sequestrados eram cidadãos israelenses, incluindo judeus israelenses, árabes israelenses e beduínos. Entre os 10% restantes, havia cidadãos de 44 nações. O maior número de vítimas estrangeiras eram trabalhadores tailandeses. Dezessete britânicos foram assassinados — o maior número de britânicos mortos em qualquer ataque terrorista estrangeiro desde o 11 de Setembro.

A vítima mais jovem tinha 14 horas de vida. Naama Abu Rashed, uma beduína israelense, foi baleada ainda no ventre da mãe. A bala atravessou sua pequena perna. Ela nasceu gravemente ferida e acabou morrendo. A vítima mais velha foi Moshe Ridler, um sobrevivente do Holocausto de 92 anos. Ele morreu quando militantes do Hamas dispararam por foguete uma granada contra o abrigo onde ele havia se refugiado do tumulto. Em seguida, mataram a tiros Petro Boscov, seu cuidador moldavo. Quando era criança na Romênia, Ridler sobreviveu ao gueto nazista e aos trens de deportação, mas não conseguiu sobreviver à cruzada sádica do Hamas.

Os métodos de assassinato incluíram tiros, queimaduras, asfixia, explosões de granadas e ataques com mísseis. Muitas vítimas foram submetidas a mutilação, violência sexual e “outras formas de brutalidade deliberada”, antes ou depois da morte. Uma mulher foi estuprada sob a mira de uma arma. Outras foram estupradas em seus quartos antes de serem assassinadas. As forças de resgate encontraram corpos de mulheres “sem roupas íntimas”, além de “sinais de sêmen”. A parte do relatório em que tive que parar de ler descreve a descoberta do corpo de uma mulher em que houve “[a] inserção de uma faca na área genital”.

O relatório descreve com detalhes chocantes a brutalidade dos ataques de 7 de outubro, incluindo estupros, mutilações e torturas cometidas antes e depois da morte das vítimas | Foto: Shutterstock

A violência foi feroz. Coquetéis molotov foram lançados para queimar pessoas vivas. Pai e filha bebê sofreram queimaduras violentas quando membros do Hamas usaram um botijão de gás butano para transformar sua casa em um inferno. O pai ou 58 dias em coma induzido, e a filha, oito dias. O Hamas entrou em uma casa gritando “yahud!”, que significa “judeus”. E encontraram judeus: pai, mãe e quatro filhos. O pai usou uma peça de mobília em um esforço desesperado para afastar os invasores — que o mataram com um tiro. Em seguida, atiraram no rosto da filha. Ela tinha “um buraco no rosto e estava ofegante em seus últimos suspiros”, contou a mãe. A mãe e as três crianças sobreviventes foram levadas para Gaza e forçadas a entrar em um “buraco” no chão. Por quê? Porque são “yahud”.

O relatório está repleto de relatos como esse, da violência mais bestial, praticada com extremo preconceito, contra homens, mulheres e crianças. O 7 de outubro parece uma coisa do século ado, o século da guerra e do extermínio. Foi como se os ódios atávicos tivessem saído dos livros de história e se imprimido na nossa era complacente. Talvez a contribuição mais valiosa do relatório seja deixar bem claro que não se tratou de um ataque impulsivo. Não foi a “fuga” dos condenados da Terra de seu “campo de prisioneiros” para se vingar desesperadamente de seus opressores, como os esquerdistas que apoiam o Hamas querem nos fazer acreditar. Não, esse ataque estava sendo preparado havia anos. Foi um massacre de judeus consciente e totalmente organizado.

Sete mil militantes participaram dele. Isso incluiu 3,8 mil das forças de elite Nukhba do Hamas e suas Brigadas Al-Qassam e 2,2 mil indivíduos de outros exércitos terroristas, incluindo a Jihad Islâmica Palestina. Outros mil permaneceram em Gaza para disparar mísseis contra Israel e oferecer apoio tático aos assassinos em campo. O Hamas estava planejando o ataque desde 2018, quando criou uma “Sala Conjunta para as Facções da Resistência Palestina” para reunir recursos terroristas e planejar a invasão. No dia de fato, eles atacaram por terra, mar e ar. Longe de ser um ato de violência espontânea, alimentado pelo desespero, foi um ato altamente disciplinado de terror fascista com o objetivo expresso de matar o maior número possível de judeus.

O ataque de 7 de outubro foi meticulosamente planejado pelo Hamas desde 2018, e envolveu 7 mil militantes, em uma ação coordenada por terra, mar e ar, com o objetivo deliberado de matar judeus | Foto: Shuttestock

Ler esse relatório é uma tarefa angustiante, mas seria benéfica para todos. É nosso dever humano saber e contar a verdade sobre o 7 de outubro. As palavras da escritora alemã Herta Müller soaram em meus ouvidos durante a leitura. Ela descreveu o 7 de outubro como um “descarrilamento total da civilização”. “Há um horror arcaico nessa sede de sangue que eu não considerava mais possível nos dias de hoje”, escreveu ela. O relatório faz cair por terra a equivalência moral imperdoável e chorosa que muitos observadores ocidentais fazem entre a violência do Hamas e a resposta de Israel. A guerra em Gaza é terrível, mas é uma guerra. O que aconteceu em 7 de outubro foi algo completamente diferente. Foi a tortura íntima e bárbara de judeus, realizada com orgulho e alegria. Foi fascismo.

Então é isso que os ativistas têm justificado. Foi a isso que se referiram como “resistência”. Isso é o que chamaram de “um dia de celebração”. A queima de judeus até a morte. O estupro de mulheres judias. O assassinato de crianças judias. O assassinato de um judeu que havia sobrevivido ao maior crime da história. Agora temos todos os dados, todas as linhas do tempo e todas as informações sobre o 7 de outubro. Mas ainda aguardamos o momento de clareza moral em que nossas elites intelectuais finalmente vão reconhecer a gravidade desse crime contra os judeus e a humanidade e se dedicar a defender a civilização que ele ofende tão gravemente.


Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy

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10 comentários
  1. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Monstros

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    São relatos chocantes! Que Israel consiga eliminar estes bárbaros um a uma!

  3. João Antônio Dohms
    João Antônio Dohms

    E aí vc toma conhecimento sobre um artista brasileiro Caetano Veloso que num show em Florianopolis estendeu no. Hao durante o show uma bandeira Palestina !
    O que dizer de um gesto desse calibre em detrimento do sofrimento da barbárie pela qual o povo judaico ou em 07 de outubro !
    Fato de una tristeza infinita !
    Mas o Ciro Gomes numa entrevista há uma rádio falou recentemente :
    Artistas não são patriotas !

  4. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Excelente artigo. Parabéns. Ao contrário de Brendan O’Neill, não tenho esperança de que as “elites intelectuais” reconhecerão a gravidade, a barbárie e a desumanidade do 07 de outubro de 2023.

  5. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Com todas essas informações ainda tem governos que apoiam esses terroristas

  6. Marcio Bambirra Santos
    Marcio Bambirra Santos

    Worse! There are people here in Brazil and in other parts of the world who defend these damned murderers!

  7. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Estamos num momento da humanidade. No caso do Brasil assistimos um presidente que adora ditaduras e defende o Hamás. É incompreensível. A maioria que defende terroristas não conhece história e nem o que é paz e fraternidade.

  8. José Pedro Scatena
    José Pedro Scatena

    É impossível esconder o horror. Cedo ou tarde sua face é revelada, derrubando discursos que relativizam as ações dos monstros desumanos que querem impor ao mundo sua crença fanática.

  9. Urias Roberto da Silva
    Urias Roberto da Silva

    Triste. Algumas coisas achei que tínhamos deixado para trás. Não, ainda não deixamos.

  10. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    Gosto de ler os seus artigos, Brendan. Quando vejo o nosso presidente e tantos outros por aí apoiando trastes como esses, sinto vergonha. Difícil acreditar como a ignorância pode ser tão farta e persistente.

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