O número de brasileiros vivendo no exílio em decorrência de perseguições do Poder Judiciário tem crescido anualmente desde 2020. Previsivelmente, houve uma expansão repentina depois dos eventos de 8 de janeiro de 2023, ocorridos em Brasília.
Estima-se que mais de 500 refugiados buscaram a liberdade em diferentes países nesses cinco anos. A Argentina abriga a metade do total, de acordo com números fornecidos pela Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav) e com a apuração realizada por esta reportagem junto aos grupos perseguidos.
Outros países onde há confirmação de brasileiros refugiados ou autoexilados são Estados Unidos, Paraguai, México, Portugal, Espanha, Reino Unido e Itália.
A reportagem de Oeste esteve com dezenas de exilados nos meses de fevereiro e março deste ano, tanto nos Estados Unidos quanto na Argentina.
No vizinho sul-americano, cujo presidente Javier Milei se elegeu sob o bastião da “liberdade”, os brasileiros convivem com o medo de serem presos e deportados a qualquer momento. Ao mesmo tempo, buscam sobreviver por meio de trabalhos esporádicos e informais, além de receberem doações.
Isso porque o juiz argentino Daniel Rafecas acatou, em novembro de 2024, um pedido do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinando a prisão de 62 brasileiros exilados no país. De lá para cá, muitos foram para províncias diferentes, enquanto outros fugiram para o México e os Estados Unidos.
Depois da decisão de Rafecas, cinco refugiados foram presos em território argentino: Joelton Gusmão de Oliveira, Joel Gomes, Rodrigo Ramalho, Ana Paula Souza e Wellington Luiz Firmino. Eles aguardam a definição de uma data para o julgamento da extradição. Caso a decisão lhes seja desfavorável, poderão apelar à Suprema Corte do país.
Em dezembro do ano ado, o líder indígena José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Serere, acabou preso em uma conturbada ação da Polícia Federal na fronteira entre o Brasil e a Argentina, na região de Foz do Iguaçu. Sua defesa sustenta que ele estava dentro do país vizinho, enquanto policiais federais contestam essa versão.

A reportagem da Revista Oeste se encontrou com famílias de brasileiros em Buenos Aires e em outra província situada a oeste do país. Uma advogada argentina acompanhou as visitas aos brasileiros na condição de observadora.
Amadurecer às pressas
Filhas de refugiados, Agnes Gusmão, de 22 anos, e Bruna, de 12, moram no interior. “A gente mora fora do casco”, informou Bruna, antes de explicar que aquela era uma expressão local para “periferia”.

O ponto de ônibus fica a dez minutos a pé do local onde moram. A rua não tem calçamento. A maioria dos argentinos não faz ideia de que 250 brasileiros vivem no país na condição de exilados. Estão dispersos por pelo menos 14 cidades de seis províncias, além de Buenos Aires. “São dois anos de tortura psicológica”, contou Agnes. Seu pai, Joelton Gusmão, está preso na Grande Buenos Aires a pedido do STF. Sua mãe está na lista dos 62 procurados.
Estudante de odontologia, ela precisou interromper o curso e amadurecer às pressas quando os pais foram presos, no dia 8 de janeiro de 2023. De um dia para o outro, ou a cuidar da casa e dos irmãos mais novos.
Quando os pais decidiram se refugiar na Argentina, Agnes não hesitou e foi encontrá-los. Estava grávida. “Meu filho nasceu em um país livre”, diz. Levi, de 3 meses, nasceu na Argentina. O avô foi preso antes de o neto nascer.

Histórias do exílio
A gerente istrativa Fabíola Rocha, de 47 anos, está separada da neta, de 8, desde 2024. A menina envia mensagens perguntando quando a vovó voltará ao Brasil.

A maioria dos brasileiros que vivem na Argentina ou por diferentes presídios no Brasil, principalmente na Papuda e na Colmeia, em Brasília. O empresário Fabrício Gomes, de 46 anos, por exemplo, ou sete meses na Papuda. “Éramos 16 pessoas em uma cela de 18 metros quadrados com quatro beliches”, lembra. “A gente precisava se revezar para dormir.”

Vivendo em liberdade condicional e tendo de se submeter a diversas restrições, Fabrício decidiu se desfazer da tornozeleira eletrônica e tentar a sorte fora do Brasil. Escolheu a Argentina, aonde chegou no dia 7 de abril de 2024. Sua mulher e a filha, de 5 anos, ficaram no Brasil.
Um dos primeiros exilados políticos a atravessarem a fronteira, Fabrício recepcionou dezenas de brasileiros que chegaram depois. “No Brasil, não temos mais instância superior a recorrer”, lamenta. “O STF está condenando cidadãos comuns, sem foro privilegiado. A única possibilidade de viver em liberdade é saindo do Brasil.”
O ‘repórter’ delator
Nas últimas semanas, Paulo Motoryn, um repórter do Intercept Brasil, piorou a já árdua vida dos refugiados brasileiros na Argentina. Motoryn ou a interpelar as empresas que contratavam os exilados e a acusá-las de dar empregos a fugitivos e terroristas. Cinco pessoas acabaram demitidas e estão enfrentando problemas financeiros.
Em outra cidade, mais ao norte, vive Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio ou Léo Bolsonaro, primo dos filhos mais velhos de Jair Bolsonaro. Ele chegou ao país em março deste ano. No dia 2 de abril, o ministro Alexandre de Moraes expediu um mandado de prisão contra ele por suposta participação nos atos de 8 de janeiro.

Seu aporte já havia sido apreendido, mas ele ingressou na Argentina portando o documento de identidade, situação prevista no acordo envolvendo os países do Mercosul. Sua esperança agora reside na votação pela anistia. “Essa é a pauta principal do Brasil hoje”, diz. “Há milhares de famílias sofrendo, muitas crianças separadas dos pais, senhoras idosas presas ou refugiadas. Isso é desumano.”
Tortura psicológica
O advogado Ezequiel Silveira, da Asfav, explica que ainda não há data para o julgamento da extradição desses brasileiros. “Vejo apenas especulações na mídia”, diz. Também não há data prevista para o julgamento da liberdade dos cinco brasileiros presos em Ezeiza, na Grande Buenos Aires.
Entre eles estão Joel Gomes Corrêa e Rodrigo Ramalho. Os dois escreveram recentemente cartas descrevendo as condições de penúria a que estão submetidos no sistema prisional argentino, com relatos de tortura psicológica e humilhações. Joel pede socorro, enquanto Ramalho encerra dizendo “ainda estou aqui”.
Leia também “Os enfermos do 8 de janeiro”
O que o desgoverno Lula está proporcionando ao país é exatamente o que ele disse em campanha: “eu quero é me vingar”.
O país anistiou em 1979 a maioria da caterva que hoje ocupa cargos públicos e não servem ao público.
O Brasil não merece esse pesadelo. Ou a Câmara dos Deputados pauta, vota e aprova a anistia para varrer as injustiças cometidas para “salvar da democracia” ou o país poderá entrar em um pântano ainda maior com consequências desastrosas.
Que pesadelo! Que venha logo a anistia!
Que situação, meu Deus!
ANISTIA JÁ. LIBERDADE E JUSTIÇA
ANISTIA JÁ. LIBERDADE E JUSTIÇA
E saber que estarmos vivendo uma ditadura de ladroes
Rafael Fontana que prazer encontra-lo aqui, li seu livro Chinobyl,excelente relato de sua experiência nas entranhas da ditadura comunista chinesa. .Leitura obrigatória A situação de qualquer exilado político e para quem quer de fato conhecer a China como é hoje.Seu artigo sobre os exilados do oito de janeiro deixa um gosto amargo de indignação, essas pessoas estão fugindo de um governo autoritário e de penas despóticas impostas por uma corte de justiça. A vida de qualquer exilado não é fácil, mudam de seu país de origem não por escolha pessoal mas.por sobrevivência. E a sobrevivência na Argentina tem sido cruel, vivem em situação de miséria. Anistia Já, gritamos na avenida Paulista no dia 6 de abril, única saída .
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