Se você já ouviu alguma coisa sobre o remake da Disney de Branca de Neve em live-action, provavelmente é que ele é woke, que a estrela Rachel Zegler é uma “princesa de DEI” (“diversidade, equidade e inclusão”) e que o filme atende ao identitarismo da esquerda. O longa-metragem, em grande parte filmado em 2022, está mergulhado em polêmicas on-line há anos, a maioria das reclamações feita por pessoas que não tinham visto o filme.
Mas eu fiz isso. E o filme de fato é um desastre. O problema não é ser woke. O problema é que ele é péssimo — além de patética e grosseiramente socialista.
A grande ideia do remake foi distorcer a ideia da palavra “fair” — que em inglês pode significar tanto “bela” quanto “justa”. Nas versões anteriores de Branca de Neve, uma rainha má pergunta a um espelho mágico: “Espelho meu, quem é mais bela do que eu?”. A resposta é sempre “ninguém”, até que um dia o espelho diz que, na verdade, é sua enteada, a princesa Branca de Neve. Ou seja, a pergunta “quem é a mais bela?” sempre foi uma pergunta sobre beleza. Mas, no remake, acontece outra coisa. O filme se esforça ao máximo para demonstrar que a rainha não é justa porque não é socialista. Não estou brincando.
Branca de Neve não usa exatamente esse termo. Mas, no começo do filme, Branca de Neve encontra um belo ladrão chamado Jonathan no castelo. Ele é o líder de um grupo de bandidos que vive na floresta e sobrevive roubando comida. Jonathan acredita que pode roubar porque ele e outras pessoas comuns têm muito pouco, enquanto a rainha tem muito e não quer compartilhar.

Essa não é apenas uma lição genérica sobre generosidade. Mais adiante, depois que Branca de Neve encontra os sete anões — feitos por animação de computador — na floresta, um deles explica que os bandidos na floresta “só estão lá por causa das políticas econômicas gananciosas da rainha, que os forçam a entrar em um espaço fronteiriço em que a ética é mais difícil de definir”. Pode não ser uma citação exata, palavra por palavra — a frase é disparada tão rápido que não tenho certeza se a transcrevi da forma exata —, mas está bem próxima. Esse é um filme sobre o roubo ser justificado pelas políticas econômicas da rainha má. Ela não é justa, veja bem, porque seu privilégio e egoísmo empobreceram as pessoas comuns. Branca de Neve à moda do Occupy Wall Street.
Jonathan e Branca de Neve continuam a flertar durante uma música chamada Princess Problems (“Problemas de princesa”), que fala principalmente que Branca de Neve precisa entender o próprio privilégio. Claro, ela pode ter perdido os pais e ter sido basicamente transformada em uma empregada pela madrasta má. Mas é literalmente uma princesa que vive em um castelo. Uau, isso é elite. Fiquei quase surpreso quando não surgiram alguns versos sobre interseccionalidade — mas, para ser justo, é uma palavra difícil de rimar.
A música também faz referência à visão de mundo maligna da rainha. Ela “envenenou todos nós para que acreditássemos que é cada um por si”. O filme inteiro é assim, como se o roteiro tivesse sido escrito pelo senador Bernie Sanders. A história é menos um conto de fadas mágico, e mais uma dissertação enjoativa e desajeitada contra Ayn Rand.
Leitor, é o que temos.
Não sou contra ideias e metáforas políticas em filmes, nem mesmo ideias políticas das quais discordo totalmente, contanto que o filme em questão seja divertido, interessante, inteligente ou engraçado de alguma forma.

Mas o remake de Branca de Neve da Disney não é nada disso. Deixando a política de lado, é um filme monótono, fraco e constantemente enfadonho, acompanhado de músicas sem graça e pouco inspiradoras. O orçamento da produção supostamente ultraou US$ 250 milhões, mas, de alguma forma, o filme consegue parecer muito barato. Os cenários parecem estandes de papelão pintados para uma peça de teatro comunitário ou, quando preenchidos por animação, parecem níveis de videogame em que o jogador precisa sair por aí fazendo missões de busca. Os anões de animação computadorizada foram renderizados de forma desajeitada para parecerem versões tridimensionais não muito realistas dos personagens do desenho animado de 1937; suas figuras assustadoras atingem as profundezas da esquisitice.
O filme inteiro parece feio e falso. De certa forma, essa é a maior traição da nova versão ao seu material de origem. A animação da Disney de 1937, Branca de Neve e os Sete Anões, continua sendo um clássico, amado quase um século depois de seu lançamento, em parte porque era uma maravilha técnica e em parte porque era simplesmente lindo — cada quadro lindamente animado, cada detalhe visual cuidadosamente pensado.
Mas não existe amor nem beleza nessa versão fraca e desesperada — nada para irar ou apreciar. Não importa como você o defina, o filme não é o mais belo de todos.
Peter Suderman é editor especial da Reason.
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Logo, logo virão versões desse mesmo nível sobre, por exemplo “A bela adormecida”, “Aristogatas” e outros.
Não faz o menor sentido a Disney, uma companhia multimilionária, querer ar mensagens socialistas. Se ela é a favor de grupos de ladrões, o que será que ela acharia então dos consumidores deixarem de pagar pelos seus filmes e arem a piratear tudo? Parece ser uma prática condizente com aquilo que o filme prega.
Não é de se estranhar, a mentalidade woke e socialista se fundamenta no desejo de superioridade de seus seguidores, isso os fazem criarem mediocridades inacreditáveis. Depois é só alegar que o fracasso é culpa da população que não entende a superioridade de suas criações torpes.