Entre os inúmeros registros indispensáveis para entender a Segunda Guerra Mundial estão as assustadoras fotografias dos sobreviventes no campo de concentração de Buchenwald, construído em 1937 e localizado a apenas 8 quilômetros da antiga cidade de Weimar, na Alemanha — onde nasceu o poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe. As fotos oferecem uma dimensão histórica e gráfica do que foi o Holocausto.
Inicialmente, a maioria dos detentos de Buchenwald era formada por prisioneiros políticos. No entanto, após o massacre da Kristallnacht (“Noite dos Cristais”), em 1938, agentes das SS enviaram cerca de 10 mil judeus, os quais foram submetidos a tratamentos extraordinariamente perversos. Eram realizadas experiências médicas, como teste da eficácia de vacinas para tifo, cólera, além de transplantes hormonais para os detentos homossexuais.

A derrota nazista era iminente diante dos avanços das tropas soviéticas e americanas. Alemães começaram a bater em retirada e tentaram apagar qualquer vestígio da maldade humana realizada nos campos de concentração. Cinquenta campos foram rapidamente evacuados, e os prisioneiros foram obrigados a marchar junto com as tropas. No campo de Buchenwald, um dos maiores já criados pelos nazistas, não foi diferente. A fuga começou em 6 de abril de 1945, mas uma organização secreta de resistência, formada por prisioneiros, conseguiu atacar e controlar Buchenwald até a chegada dos Aliados, cinco dias depois, no dia 11, às 3h15. Até hoje o horário está marcado na entrada do campo como uma referência à chegada dos libertadores. O Terceiro Exército americano, do general George Patton, em sua marcha histórica através de uma Alemanha em colapso, libertou mais de 20 mil prisioneiros de Buchenwald e, em seguida, os campos de Dora-Mittelbau, Flossenbürg, Dachau e Mauthausen.

Na manhã do dia seguinte, o Exército de Patton convocou fotógrafos e jornalistas, além de civis que moravam ali nas redondezas, para inspecionarem o campo e testemunharem o que havia sobrado do horror nazista — essa experiência foi usada como garantia contra os generais alemães que negassem os crimes de guerra.
Entre alguns dos fotógrafos que documentaram a natureza criminosa e de depravação humana em Buchenwald estavam Walter Chichersky, Louis Nemeth, Charles W. Herr Jr., Donald R. Ornitz, Ardean R. Miller, Lee Miller, Leon Bass e Margaret Bourke-White, que trabalhava na época para a revista Life.




Dentre os inúmeros registros feitos por Margaret Bourke-White dos sobreviventes em Buchenwald está o retrato de homens jovens e velhos olhando para os seus salvadores por trás de um arame farpado, “mal conseguindo acreditar que seriam libertados de um campo nazista onde a única libertação tinha sido a morte”. As imagens foram publicadas na edição dupla especial da revista, em 26 de dezembro de 1960. E, como a revista Life publicou: “Cadáveres vivos olham para seus salvadores aliados”.




Em seu livro de memórias, de 1946, sem tradução no Brasil, Dear Fatherland, Rest Quietly — A Report on the Collapse of Hitler’s ‘Thousand Years, Bourke-White faz um relato lúcido e triste da barbárie que ela presenciou:
“Havia um ar de irrealidade naquele dia de abril em Weimar, um sentimento ao qual me apeguei teimosamente. Eu me dizia que só acreditaria na visão indescritivelmente horrível no pátio à minha frente quando tivesse a chance de olhar minhas próprias fotografias. Usar a câmera era quase um alívio; ela interpunha uma leve barreira entre mim e o horror branco à minha frente.
Essa brancura tinha a frágil translucidez da neve, e eu desejava que, sob o sol brilhante de abril, que brilhava em um céu azul limpo, tudo simplesmente se dissolvesse. Eu ansiava por que ela desaparecesse, porque, enquanto estava lá, eu me lembrava de que homens realmente fizeram aquilo — homens com braços, pernas, olhos e corações não muito diferentes dos nossos. E isso me envergonhava de ser um membro da raça humana.
As várias centenas de outros espectadores que desfilaram pelo pátio de Buchenwald naquela tarde ensolarada de abril também não estavam dispostos a itir associação com os seres humanos que haviam perpetrado aqueles horrores. Mas sua relutância tinha um certo tom de interesse próprio; pois estes eram cidadãos de Weimar, ansiosos para alegar sua ignorância sobre os ultrajes.“
Margaret Bourke-White morreu em 1971, aos 67 anos de idade, e deixou uma herança incalculável de imagens históricas dos principais eventos do século 20.

Estima-se que 280 mil pessoas foram aprisionadas durante o funcionamento de Buchenwald, de 1937 a 1945. Não existe uma precisão no número de mortes no campo, pois a quantidade exata de presos nunca foi registrada. Sabe-se que pelo menos 56 mil detentos do sexo masculino foram assassinados, dos quais 11 mil eram judeus.
Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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Até difícil descrever a tristeza e indignação que nos invadem a alma diante de tantas atrocidades. Posso imaginar o estupor sentido pela fotógrafa no cenário tenebroso.
Obrigada, Daniela!
Parabéns, Daniela. 👏 Excelente registro na semana das Páscoas Judaica e Cristã. O inenarrável ocorreu somente há 80 anos atrás. Na Europa civilizada. Parabéns mesmo! E obrigado.
Giorno uma santa do registro. Uma infinidade de documentos mostrando o nazismo contra os judeus e a miserável da esquerda apoiando os terroristas Árabes contra os judeus. Impossível ver pra crê
Não sei como tem gente que diz a raça humana deu certo.
Impressionante!
Obrigado, Daniela!
Para que nunca deixemos de lembrar…