— Uau! ou rápido, né?
— Pra mim foi uma eternidade.
— Por quê?
— Porque cansa.
— Ah, todo trabalho cansa.
— Mas esse cansa mais.
— O que ele tem de mais cansativo?
— São muitas coisas. Me cansa só de pensar em te explicar.
— Caramba. Tá cansado mesmo.
— Exausto.

— Não pode dar só um exemplo?
— De quê?
— Disso aí que você diz que dá tanto cansaço. Nunca vi nem estivador reclamar tanto.
— Estiva é moleza perto do nosso trabalho. Um estivador cairia duro com meia hora de labuta na nossa bancada. E o nosso turno às vezes a de quatro horas.
— Olha… Eu gosto de desafio. Agora fiquei até curioso. Posso participar do programa?
— De jeito nenhum.
— Por quê? Eu não aguentaria?
— Você cairia duro com dois minutos no ar.
— Você não conhece o meu preparo físico. Já joguei futebol, corri maratona…
— Não adianta nada, querido. Estou falando de Outra Coisa.
— Mas o que tem de tão extenuante assim nesse diabo de trabalho? Estou perdendo a paciência.
— Normal. Eu já perdi a minha há muito tempo.
— Não parece.
— Eu sei que não parece.
— Qual é o segredo?
— Não tem segredo. Estou no estado de pós-impaciência.
— Pós-impaciência?! Que que é isso? Nunca ouvi falar.
— É uma espécie de calma inexorável, sucessiva à insustentabilidade do estado indócil.
— Eita. Isso aí tá parecendo palestra desses filósofos de plantão.
— Estou pensando até em dar um curso.
— Capaz de ganhar um troco.
— Pois é. Quem sabe faz. Quem não sabe ensina.
— Você não sabe?
— Nada.
— Como alguém pode se cansar tanto num trabalho onde não é preciso saber nada?
— É justamente esse o ponto.
— Poderia dar pelo menos uma pista, por obséquio, do que faz a sua atividade tão misteriosamente cansativa?
— Ok. Mas só se você prometer não ficar fazendo um monte de pergunta depois que eu falar.
— Prometo.
— Tá.
— Então fala, criatura! O que você faz no seu trabalho que é tão cansativo??
— Mentir.
— Hein?!
— Você prometeu não fazer perguntas.
— Mas… Explica direito pelo menos! O seu trabalho é MENTIR?
— Exatamente. Minto que nem sinto.
— Desculpe. Eu prometi não fazer perguntas. Mas me dá só um exemplo das mentiras que você conta no seu trabalho.
— Ah, eu digo que a inflação é culpa das mudanças climáticas, por exemplo.

— Você diz isso?!
— Não só eu como meus colegas de bancada. Eles confirmam tudo.
— E vocês não ficam envergonhados? Não ficam vermelhos?
— Não. Estamos treinados. Por isso é que cansa tanto.
— Caramba… posso imaginar.
— Não pode, não. Só fazendo pra saber.
— Agora entendo por que você disse que eu não aguentaria.
— Já que você tá tão curioso, posso abrir uma exceção. Quer substituir o Gugu Dadá numa das viagens dele pra Europa?
— Obrigado. Não vou poder. Nesse período vou estar fazendo um curso bem na hora do programa.
— O programa é sábado à noite. E eu não te falei qual é o período.
— Tá vendo? Em cinco minutos de conversa com você já aprendi a mentir. Não preciso mais do teste. Tchau.
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Parabéns Fiuza, Nivea, Adriana, e equipe.
Rolei de rir!
Valeu Fiuza
Quase morri de tanto rir.
Valeu Fiuza
Quase morri de tanto rir.
Parabéns. Ou será que vcs merecem outra coisa? Mas é salutar assistir ao programa. De outra coisa a gente se esquece. Das coisas que o consórcio torgados anda fazendo.