Como católica, o papado é uma âncora sagrada, guiando 1,4 bilhão de fiéis em um mundo turbulento. A morte do papa Francisco nesta semana, aos 88 anos, após um derrame e insuficiência cardíaca, marca o fim de uma era que dividiu as opiniões dos fiéis. Aqui, presto meu respeito ao lugar de pastor líder da minha Igreja e desejo que descanse em paz. O momento é de luto, independentemente de nossos ditames políticos.
A humildade e os gestos pastorais de Francisco conquistaram corações, mas seria hipocrisia não mencionar a agenda progressista que marcou o seu papado — muitas vezes distante da missão espiritual da Igreja — e que deixou milhões de conservadores pelo mundo, como eu, incomodados com a politização da fé.
Eleito em 2013 como o primeiro papa jesuíta e latino-americano, Jorge Mario Bergoglio trouxe uma nova perspectiva ao Vaticano. Sua decisão de evitar o Palácio Apostólico e viver na modesta Casa Santa Marta, além de seus apelos por uma “Igreja pobre para os pobres”, sinalizou uma ruptura com a tradição. No entanto, seu papado rapidamente se voltou para causas seculares que pareciam desconexas do Evangelho.

Sua encíclica de 2015, Laudato Si’, enquadrou as mudanças climáticas como uma crise moral, alinhando-se a agendas globalistas em detrimento do foco da Igreja na salvação. Suas críticas ao capitalismo — chamando-o de um sistema que “mata” os pobres — ecoaram a retórica socialista, inquietando conservadores que veem os mercados, quando éticos, como motores de oportunidade, inclusive para a saída da pobreza.
Durante a pandemia, em 2020, a imagem do papa Francisco subindo solitário as escadas da Praça de São Pedro, sob uma chuva fina, para rezar o Urbi et Orbi diante de um mundo paralisado, foi um símbolo poderoso para mostrar que a fé não poderia ser silenciada, mesmo nos tempos mais sombrios. No entanto, a contradição é chocante: os mesmos políticos de esquerda que celebravam as posições progressistas de Francisco trancaram as portas das igrejas e repreenderam os fiéis que, movidos pela devoção, buscavam orar fora de casa, sendo rotulados como ameaça. Essa duplicidade expôs a hipocrisia de aliados de Francisco, que, enquanto louvavam sua mensagem, negavam aos católicos o direito de viver a fé que ele comoventemente representou naquele dia.
A sombra da Teologia da Libertação
As inclinações progressistas de Francisco carregam a marca da Teologia da Libertação, um movimento latino-americano dos anos 1960 que mistura catolicismo com luta de classes marxista. Nascido na Argentina, Francisco foi moldado pelas convulsões sociais da região, onde padres como Gustavo Gutiérrez defendiam os pobres contra regimes opressores. Embora Francisco rejeitasse os extremos marxistas do movimento, sua ênfase na injustiça sistêmica — pedindo “mudanças estruturais” na economia global — ecoava seus tons. O foco da Teologia da Libertação na libertação material em vez da salvação espiritual desviou muitos católicos latino-americanos, transformando algumas paróquias em campos de batalha políticos em vez de santuários.
No Brasil, a Teologia da Libertação alimentou a ascensão do Partido dos Trabalhadores, entrelaçando fé com política de esquerda. Isso alienou conservadores, que viam o papel da Igreja como transcendente à ideologia. O papado de Francisco ampliou essas tensões. Seu Sínodo da Amazônia de 2019, que explorou padres casados e questões ambientais, foi criticado por tradicionalistas como o bispo Athanasius Schneider por ser um aceno à espiritualidade politizada da Teologia da Libertação. Para os conservadores, esse movimento tem sido uma força corrosiva, afastando a Igreja de sua missão eterna e semeando divisão nas igrejas da América Latina.
Nenhum erro de Francisco foi mais doloroso para os católicos brasileiros do que suas intervenções políticas. Em uma entrevista de 2023, ele chamou Dilma Rousseff, que sofreu um impeachment em 2016 por manipulação orçamentária, de “mulher de mãos limpas”. Isso chocou os conservadores, dado seu envolvimento nos escândalos de corrupção do Partido dos Trabalhadores, expostos pela Operação Lava Jato — a maior investigação anticorrupção da história do Brasil, que revelou bilhões em propinas. Da mesma forma, Francisco defendeu Luiz Inácio Lula da Silva, condenado em 2018 por suborno e lavagem de dinheiro. Sua carta de 2019 a Lula na prisão e o encontro deles no Vaticano em 2020 enquadraram Lula como vítima de lawfare, ignorando as contundentes provas de seu papel no espetacular esquema de corrupção que a Lava Jato desvendou.

Para os brasileiros, a Lava Jato foi também uma cruzada moral, expondo uma rede obscena que enriqueceu elites enquanto empobrecia a nação. A defesa de Francisco a Dilma e Lula — ambos rejeitados pelos eleitores por sua corrupção — pareceu uma traição ao Brasil de bem. Seu silêncio sobre líderes conservadores como Jair Bolsonaro e Donald Trump, por exemplo, que defendem valores tradicionais e a vida desde a sua concepção, aprofundou a ferida.
Uma Igreja Dividida
Os defensores de Francisco elogiam seu alcance aos marginalizados e visitas a refugiados. No entanto, os conservadores argumentam que suas prioridades seculares — clima e endossos políticos — enfraqueceram o cerne espiritual da Igreja. Nos EUA, críticos como o arcebispo Carlo Maria Viganò o acusaram de inclinações “comunistas”, uma declaração alimentada por suas raízes latino-americanas e retórica econômica com críticas ao capitalismo. Suas posturas ambíguas sobre a doutrina geraram resistência, com quatro cardeais emitindo uma dubia em 2016 em busca de clareza sobre Amoris Laetitia.
A abordagem de Francisco ao comunismo contemporâneo, especialmente na China, intensificou essas críticas. Desde os anos 1950, o Partido Comunista Chinês exigiu que o Vaticano aceitasse bispos nomeados pelo governo, controlando as dioceses chinesas. Como disse o papa Bento XVI, “a autoridade do papa para nomear bispos é dada à Igreja por seu fundador, Jesus Cristo. Não é propriedade do papa, nem ele pode dá-la a outros”. A China, há muito tempo, exige que o Vaticano aceite apenas bispos nomeados pelo governo chinês e lhes dê plena autoridade para governar uma diocese chinesa. O governo comunista chinês ateu encontrou no papa Francisco um parceiro disposto a ceder às suas exigências, e Francisco pareceu não ter tido problemas em subordinar sua autoridade a um governo comunista repressivo.
Desde a tomada do poder pelos comunistas, em 1949, os católicos, assim como outros grupos religiosos na China, sofrem perseguição. Sob o punho de ferro de Mao, a China exterminou todas as religiões durante a Revolução Cultural (1966-1976). Locais de culto foram destruídos, e os religiosos, forçados a retornar à vida secular. Muitos foram perseguidos e alguns até perderam a vida.
Desde a reforma econômica da China, na década de 1980, o governo chinês tem demonstrado um nível limitado de tolerância a religiões e fiéis. Mesmo assim, o crescimento da população cristã chinesa tem sido tão impressionante quanto o crescimento econômico do país. Esse avanço notável causou profunda preocupação no governo chinês, fazendo com que o ditador Xi Jinping — que não é amigo da liberdade religiosa — deixasse claro que os grupos religiosos “devem aderir à liderança do Partido Comunista da China [PCC] e apoiar o sistema socialista e o socialismo com características chinesas”.
Em outras palavras, o governo chinês toleraria qualquer religião somente se ela colocasse o governo chinês antes de Deus — a cartilha ipsis litteris do comunismo.

João Paulo II: o guerreiro anticomunista
Quando um ciclo se fecha, é impossível evitar comparações. E o contraste entre os papados de Francisco e João Paulo II é enorme.
De 1978 a 2005, João Paulo II brilhou como um modelo de liderança moral, forjado nas chamas da opressão soviética. Nascido Karol Wojtyła, em Wadowice, na Polônia, em 1920, ele enfrentou a ocupação nazista, trabalhando em uma pedreira enquanto estudava secretamente para o sacerdócio. Após a Segunda Guerra Mundial, o comunismo imposto pelos soviéticos trouxe novos horrores: a Igreja foi suprimida, padres foram presos, e a fé foi forçada à clandestinidade. Como jovem bispo, Wojtyła testemunhou o ataque do regime à dignidade humana, da coletivização forçada à repressão do pensamento livre. Essas experiências moldaram sua convicção inabalável de que o comunismo era uma afronta à liberdade dada por Deus.
João Paulo II tornou-se um guerreiro global contra o marxismo. Sua visita à Polônia em 1979 foi um divisor de águas: dirigindo-se a milhões em Varsóvia, ele proclamou “não tenhais medo”, acendendo o movimento Solidariedade, que desafiou o controle soviético. Seu apoio moral — por meio de discursos, ajuda clandestina e encontros com Lech Wałęsa — ajudou a derrubar o comunismo na Polônia, um dominó que enfraqueceu a União Soviética. Sua encíclica Centesimus Annus (1991) endossou mercados livres guiados pela moralidade, rejeitando tanto o capitalismo desenfreado quanto o coletivismo marxista. Para os conservadores, sua clareza foi um baluarte contra o caos ideológico do século 20.
A autoridade moral de João Paulo II ia além da política. Ele condenou o aborto como uma “cultura da morte”, defendeu o casamento tradicional e o celibato sacerdotal, oferecendo uma âncora firme para os conservadores. Seu carisma — beijando o solo de 129 nações, atraindo milhões para as Jornadas Mundiais da Juventude — o tornou um unificador.

Sua luta anticomunista era sobre liberdade universal, não ganhos partidários. Sua visita ao Brasil em 1980, mesmo sob um regime militar, focou a fé, não a política, inspirando ricos e pobres. Sua visita ao Rio de Janeiro em 1997, onde celebrou família e fé diante de 2 milhões de pessoas, permanece uma memória querida para católicos brasileiros como eu. Sua capacidade de desafiar o mundo — pedindo paz durante a guerra fria ou perdão depois de sobreviver a uma tentativa de assassinato — o tornou um papa para todas as estações. Diferentemente de Francisco, ele evitou endossar figuras divisivas, mantendo o papado como uma voz universal.
A luta de João Paulo II contra a Teologia da Libertação foi igualmente resoluta. Em 1984, ele disciplinou teólogos como o brasileiro Leonardo Boff por priorizarem a luta de classes sobre a doutrina. Sua encíclica de 1987, Sollicitudo Rei Socialis, criticou a visão materialista do marxismo, redirecionando a Igreja para soluções espirituais. Para conservadores preocupados com o legado do comunismo, João Paulo II era um papa que entendia seus perigos em primeira mão.
Olhando para o conclave
A morte de Francisco inaugura a sede vacante, com 135 cardeais se preparando para o conclave. O próximo papa herdará uma Igreja polarizada, dividida entre a visão progressista de Francisco e o tradicionalismo que os conservadores desejam. Para os conservadores, a esperança é um pontífice que restaure a clareza doutrinária e evite envolvimentos políticos, como fez João Paulo II.
O papado de Francisco, embora marcado por gestos de humildade, deixou um legado conturbado para os católicos conservadores. Sua agenda progressista, moldada pela sombra da Teologia da Libertação, sua defesa de líderes brasileiros corruptos como Dilma e Lula, e sua diplomacia com a China comunista alienaram aqueles que buscavam um pastor espiritual.

No Brasil, onde a Lava Jato expôs a corrupção sistêmica, sua parcialidade afastou fiéis de sua palavra de líder da Igreja. João Paulo II, temperado pelos horrores do comunismo soviético, mostrou como um papa poderia lutar por liberdade e fé sem dividir. Como católica, oro para que o próximo pontífice recapture essa visão, conduzindo a Igreja de volta à sua missão eterna, não a cruzadas terrenas.

Leia também “Interstellar: uma odisseia de fé”
Concordo com tudo, Ana. Expôs, como sempre (o assunto), com “português irretocável”. Mas, na minha opinião (e, eu também sou católico, viu?!), você ainda teve a delicadeza de “pegar leve” com “sco”. Não citou o fato de que: o pontífice não mexeu uma pallha para, pelo menos, tentar impedir a legalização do aborto na Argentina (seu país natal!!!); se solidarizou, acobertou e protegeu Joe Biden (contumaz abortista); recebeu no Vaticano comitiva do MST, se solidariando com estes e, até, “abençoando” a bandeira do Movimento; e, para ficar em só mais um exemplo, visitou, presenteou, confraternizou e homenageiou a Fidel Castro (Ditador de esquerda e genocida). Fora outras heresias (como conceder “bênção especial” a casais gays) que não cabem neste pequeno espaço.
NOTA: – nada contra homossexuais, mas é de conhecimento amplo que a doutrina católica não aceita casais gays.
Comparar João Paulo com Esse é impossível. Aquele viveu nas guerras, viu fome, morte, bombas, rios em sangue e Esse foi produto do progressismo. Ele nunca foi um Papa convicto mas sim um comunista ativo. Usou a igreja como palanque com Fidel, Dila, Lula e demais ditadores. Como dito acima; ainda bem que foi breve. PS: estou com sérias tendências de mudar de religião por essa ideologia da libertação.
Quando Juan Domingo Peron instalou a ditadura na Argentina, Jorge Mario Bergoglio tinha apenas 10 anos de idade. ou sua adolescência, juventude e idade adulta sob regime político que destruía o país. No sacerdócio, infelizmente abraçou as causas “progressistas” ao contrário de João Paulo II que virou Santo pela sua trajetória de união, liberdade e respeito pela vida depois de ter vivido os horrores do comunismo.
Foi breve, graças a Deus.
Com ditadores sanguinários e corruPTos, o Papa Chico sorria desbragadamente Com conservadores democratas, fazia cara feia de quem está com dor de debte e precisando ir, urgente, ao WC,
Que Deus em Sua grandiosa misericórdis o acolhacem Seu Reino. Mas eu, um reles pecador, não gostava desse papa.😡
Excelente Ana Paula! Sua retrospectiva de situações correlatas, adas por outros Papas ao longo dos dois últimos séculos, sem transigir em relação à fé e doutrina da Igreja, foi oportuna e brilhante! Parabéns! Como você, como católica, também oro para que o próximo Papa, se preocupe mais em manter a Barca de Pedro na sua missão eterna!
Parabéns pelo artigo, muitos pontos haviamos esquecido
Esse papa é burro mesmo ou é um marvado comunista? Estou mais pra segunda opção. Bota o Frei Chico no lugar dele
Parabéns Ana Paula pelo artigo esclarecedor e maravilhoso. Gratidão 🙏
Você colocou em palavras a minha visão e sentimento sobre a era Papa Francisco. Excelente! Assim como não precisamos de um STF partidário, também não queremos um papa agindo como cabo eleitoral de corruPTos.
Sou católico mais este papa não me representa.
No momento em que recebeu o molusco em audiência privada cuspiu ,debochou de todos nós
brasileiros honestos ,trabalhadores !
Papa comunista !
Demagogo que em sua última romaria foi para Singapura pais riquíssimo o qual
não precisava
da visita dele !
Em compensação a Ucrânia que sangra em uma guerra inglória ele não foi visitar !
Os ucranianos precisam desesperadamente de apoio,exercício da fé !
Nunca me representou nem a min,nem a milhares de católicos !
“Tamo” junto nessa, João!
Ana , brilhante e bem mineira na sua análise : calma , contundente e mansa . Você conseguiu expor com clareza o que foi Jorge Bergoglio , que desde os tempos de cardeal de Buenos Aires flertava com os poderosos , adotando uma postura conciliadora . Ele dividiu a igreja católica ,o que sempre foi o objetivo maior da esquerda mundial . Adotar o esquerdismo é adotar uma religião , e o catolicismo é a religião que consegue se opor à esquerda e portanto deve ser destruída . Mas Deus é maior do que isso e mandará sua mensagem para nós
Ana, seu texto foi brilhante. Li todos os livros do Boff e de Dom Pedro Casaldaliga e acreditava piamente que era um movimento para recuperar a dignidade dos mais pobres e oprimidos, como Jesus fez. Tempos depois descobri que era para ajudar a fundar o PT . Parabéns pelo texto, altamente esclarecedor. Bola dentro.
Ana Paula, primeiramente, meus parabéns pelo seu texto. Um trabalho primoroso e corajoso. A opção do Papa Francisco por uma vida menos luxuosa no Vaticano, infelizmente, foi um contraste ao apoiar abertamente esses políticos de esquerda, condenados por corrupção, em especial esses dois (um preso, outra impichada). E a Teologia da Libertação é um sinônimo de atraso e afastamento do pensamento cristão. Obrigada pelo texto. Bom final de semana.
Foi um papa comunista. Retardado mental, como todos os esquerdistas. Ainda não ficou claro o caráter nefasto desta ideologia? E ainda tem vagabundo que a defende. Como defender um ladrão, uma imbecil, como fez esse papa Francisco? Um globalista estúpido, que defendia o controle total dos pobres, mantendo-os na pobreza…
Esse aí já foi pro colo do capeta!
Como de hábito, um artigo excelente redigido por uma pessoa católica de grande visão. O perfil do papa Francisco foi desenhado com precisão e gentileza, foram lembrados ali os pontos mais importantes que moldaram o seu pontificado. Eu, ainda que católico mas sem a forte convicção da presada Ana Paula, dou muita ênfase a esses mesmos pontos que nunca esqueci, o que me leva a considerar o finado papa como um péssimo pastor da Igreja Católica. No meu entender, as feridas que ele causou no tecido da Igreja dificilmente serão curadas. Embora eu também peça a Deus, em silêncio, para que a escolha do futuro papa devolva a Igreja às suas origens, não acredito que seja possível acontecer, ao ver o perfil de muitos dos cardeais que participarão.