No próximo dia 7 de maio a famosa Capela Sistina, no Vaticano, com seus espetaculares afrescos feitos por Michelangelo, fechará suas portas ao público para receber o conclave, o misterioso e secreto ritual para decidir o próximo pontífice romano, o 76º na história da Igreja.
Na Idade Média, as eleições papais eram foco de intriga política, corrupção e podiam se estender por longos períodos. A mais extensa e catastrófica eleição da história da Igreja Católica ocorreu no Palácio Papal de Viterbo, na Itália, no século 8º, depois da morte do papa Clemente IV, em 1268. Por razões políticas, os 20 cardeais não conseguiram chegar a um acordo, e o processo eleitoral se arrastou por 34 meses, quase três anos.
Revoltados com a demora, autoridades e moradores de Viterbo tomaram medidas drásticas para acelerar a decisão. Interromperam o fornecimento de comida e, para pressionar ainda mais, removeram o telhado do palácio onde os cardeais estavam reunidos, dizendo que queriam facilitar a ação do Espírito Santo. A situação tornou-se tão precária que dois cardeais morreram durante o processo, e um terceiro teve que ser retirado por motivos de saúde. As medidas extremas funcionaram: em três meses, o trono de São Pedro não estava mais vago, culminando na eleição do papa Gregório X, arquidiácono de Liège, que na época se encontrava em uma cruzada na Terra Santa. O novo papa foi ratificado pelo Colégio de Cardeais em 1º de setembro de 1271, pondo fim à mais longa eleição papal da história.


A palavra “conclave” vem do latim cum clavis (“com chave”) e remonta ao ano de 1274, quando, depois do fiasco da última eleição, o papa recém-nomeado, Gregório X, promulgou a Constituição Ubi Periculum, que instituiu oficialmente a prática do conclave. Entre outras questões, estabeleceu-se que ele deveria ser realizado entre eleitores cardeais num local precisamente “fechado a chave” por dentro e por fora, além de restrições ao cardápio após determinado número de dias. Muitas dessas regras ainda são usadas hoje.
O primeiro conclave da história, depois da promulgação da Constituição Ubi Periculum, foi o de Arezzo, em 1276, com a eleição de Inocêncio V.
Embora, no ado, o conclave tenha sido realizado no Palácio do Quirinal, em Roma, o local habitual é a Capela Sistina, no Vaticano. Já é o 26º realizado sob os auspícios do Juízo Final, de Michelangelo. O último conclave realizado fora da Cidade Eterna ocorreu em Veneza, em março de 1800, após a morte do papa Pio VI.
A legislação vigente da Igreja é a Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996 e modificada por Bento XVI em 2013. De acordo com as regras, o conclave deve ser realizado na Capela Sistina, definida como Via Pulchritudinis, o caminho da beleza capaz de guiar a mente e o coração em direção ao Eterno. Os cardeais devem se reunir 15 dias depois da morte ou renúncia do Santo Padre.


Neste ano, em número excepcionalmente grande, 135 cardeais com menos de 80 anos podem votar. Os cardeais representam 72 países diferentes, se forem consideradas as nações onde servem, e não apenas onde nasceram. Muitos deles foram nomeados pelo próprio Francisco, sugerindo que o seu estilo progressista ainda pode influenciar o próximo capítulo da Igreja.
A votação é feita de forma anônima, por meio de cédulas de papel. Cada cardeal escreve o nome de seu candidato, sob a inscrição em latim “Eligo in Summum Pontificem” (“Eu elejo como pontífice supremo”). A regra proíbe que os cardeais votem em si mesmos. Depois de escrever o voto, cada cardeal, em ordem de senioridade, coloca sua cédula em um cálice. Os votos são então contados, e o resultado é lido em voz alta para o grupo. Para que um cardeal seja eleito, ele precisa obter uma maioria de dois terços dos votos dos eleitores participantes.
As cédulas são queimadas depois de cada votação. Se a fumaça vista saindo da chaminé for preta, indica que nenhuma decisão foi tomada. Se a fumaça for branca, um novo sucessor de São Pedro foi escolhido. O novo papa aparece na sacada da Basílica de São Pedro para ser saudado pelos fiéis, faz uma breve oração e fala ao público.

O filme Conclave recebeu oito indicações ao Oscar e levou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado. Dirigido por Edward Berger, foi adaptado para o cinema em 2024 e se baseia no livro de 2016 do romancista britânico Robert Harris, que fez uma longa pesquisa antes de escrevê-lo. Articulações, intrigas, tensões políticas e religiosas envolvendo vários cardeais no processo de seleção papal vão sendo reveladas ao longo da trama. A produção foi bem recebida pela crítica especializada, mas considerada uma afronta por muitos — dentro e fora da Igreja — que a classificaram como uma “provocação gratuita”, em razão de diferentes sensibilidades em relação ao tema religioso.

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
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