O DOGE é exaltado por cortar gastos do governo mais do que qualquer alternativa plausível | Foto: Shutterstock
Edição 267

O DOGE tem sido um estrondoso sucesso

O Departamento de Eficiência Governamental, de Elon Musk, fez o volume de cortes que se poderia esperar do governo Trump

Sempre que o senador democrata pela Virgínia Ocidental, Joe Manchin, irritava os ativistas de esquerda ao se opor a alguma prioridade progressista de trilhões de dólares durante o governo Biden, o escritor liberal Matt Yglesias defendia o senador com o argumento de que seu desempenho estava acima do valor de reposição.

Em vez de comparar Manchin com outros senadores progressistas, Yglesias argumentava que os esquerdistas deveriam compará-lo com seu substituto mais provável, que quase certamente seria um republicano muito conservador. Levando tudo em consideração, ele foi o melhor senador da Virgínia Ocidental que os progressistas poderiam esperar.

Tenho uma avaliação igualmente otimista do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) dos Estados Unidos.

A chegada dos cem primeiros dias de mandato de Donald Trump e o anúncio de que Elon Musk está se afastando do DOGE provocaram muitas retrospectivas críticas. O US$ 1 trilhão que Musk afirmou que o DOGE economizaria foi reduzido para US$ 150 bilhões, e nem mesmo esse valor resistiria a um escrutínio mais minucioso. Os muitos subsídios e funcionários demitidos pelo DOGE foram reintegrados, pelo menos temporariamente, pelos tribunais.

Especialistas do governo federal argumentam que poucos desses cortes realmente fizeram com que o governo funcionasse de forma mais eficiente. Como afirmou uma manchete da Reuters: “Cem dias de DOGE: muito caos, pouca eficiência”. Os libertários podem muito bem achar que todo o esforço do DOGE foi uma grande decepção.

Chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) dos EUA, Elon Musk, em primeira sessão com jornalistas na Casa Branca
Após cem dias, o plano DOGE de Trump e Musk enfrenta críticas por caos e ineficiência, com economia muito abaixo do prometido | Foto: The White House

Nem perto da meta, mas no azul

Em comparação com um esforço ideal para reduzir o tamanho e o escopo do governo federal, o DOGE de fato decepcionou. No entanto, quando se consideram as alternativas mais realistas, o histórico parece realmente muito bom.

A comparação mais óbvia é a istração de Kamala Harris que não aconteceu. Kamala com certeza não teria criado nada que se aproximasse do DOGE. Se ela governasse de forma minimamente similar ao seu antecessor, poderíamos esperar mais quatro anos de rápida expansão do governo.

Durante o governo Biden, os gastos federais aumentaram em US$ 4,7 trilhões, e US$ 2,5 trilhões foram adicionados ao déficit, de acordo com uma análise do think tank Economic Policy Innovation Center. Enquanto isso, as regulamentações finalizadas sob o ex-presidente Joe Biden adicionaram um custo regulatório estimado em US$ 1,8 trilhão.

Os novos gastos foram obviamente feitos com o consentimento do Congresso. Boa parte do ônus regulatório adicional foi resultado das iniciativas do “governo todo” feitas pela Casa Branca, por meio das quais as agências foram instruídas a encontrar regras que pudessem ser endurecidas em nome da equidade, da justiça ambiental, e outros.

Portanto, é verdade que o DOGE não chegou nem perto de atingir sua meta de economizar US$ 1 trilhão. Mas os cortes feitos o colocam no azul em comparação com o que um governo Kamala teria feito.

O DOGE também pode ser considerado um sucesso se comparado com o que o governo Trump poderia ter feito à frente de um governo reduzido, ou seja, nada.

Alimentando a esperança de enxugar o Estado

Donald Trump não é um libertário. Nem um sujeito minimamente favorável a um Estado mínimo, como suas ações recentes em comércio e imigração deixam claro. Ele compôs sua istração com menos profissionais tradicionais do mercado livre do que os presidentes republicanos anteriores.

Trump não é libertário nem defensor do Estado mínimo, tendo adotado medidas intervencionistas e formado um governo pouco alinhado ao livre mercado | Foto: Reuters/Carlos Barria

Mesmo assim, o presidente americano estava disposto a dar a Musk uma quantidade notável de poder para demitir funcionários federais, cancelar subsídios e reduzir o tamanho de agências inteiras. Milton Friedman, quando questionado sobre as reformas de livre mercado realizadas pelo ditador chileno Augusto Pinochet, gostava de dizer que o verdadeiro milagre no Chile não foi essas reformas terem funcionado, mas que uma ditadura militar estivesse disposta a experimentar fazê-las.

Algo semelhante poderia ser dito sobre o DOGE. Seu sucesso não se deve à sua supereficiência em reduzir o governo, mas ao fato de Trump ter permitido que isso acontecesse.

O fato de o DOGE ter acontecido alimentou as esperanças dos defensores do enxugamento do Estado de que poderíamos dedicar muita energia executiva a um esforço constante, metódico e apoiado pelo Congresso para reduzir a máquina. Mas isso nunca esteve nos planos. Constância e método simplesmente não são o estilo de Trump.

Basta ver o caos total que se instalou com a política tarifária. Tarifas são uma das poucas coisas em que o próprio Trump claramente acredita. Seu governo está repleto de protecionistas igualmente comprometidos. No entanto, mesmo nessa questão, o governo não consegue decidir como exatamente impor barreiras comerciais punitivas, nem mesmo se quer impor barreiras comerciais punitivas.

O DOGE não foi o momento libertário

Não seria razoável esperar que Trump fosse mais cuidadoso com uma causa com a qual não está de fato comprometido.

Apesar de todo o caos que desencadeou, o DOGE se aproximou bastante da visão inicial que Musk e Vivek Ramaswamy apresentaram no artigo que publicaram juntos no Wall Street Journal logo após a eleição de 2024.

Apesar do caos, o DOGE seguiu de perto a visão traçada por Musk e Vivek Ramaswamy em artigo no Wall Street Journal após a eleição de 2024 | Foto: Reprodução/X

Os dois prometeram usar ordens executivas para reduzir o quadro de funcionários federais e revogar regulamentos de agências que deveriam ter sido aprovados pelo Congresso.

Foi mais ou menos isso que aconteceu. As equipes do DOGE nos órgãos federais fizeram demissões em massa. A Casa Branca também emitiu um fluxo constante de ordens executivas instruindo as agências a identificar e revogar as regulamentações federais que não fossem respaldadas por um estatuto subjacente.

Pode-se argumentar que tudo isso poderia ter acontecido sem o caos característico do DOGE, que beira a incompetência desastrosa. Mas até mesmo a incompetência desastrosa tem um lado positivo.

Tornar o governo federal um lugar menos seguro para trabalhar e um parceiro de investimento menos confiável significa que menos pessoas vão querer trabalhar nele e menos organizações vão depender do seu financiamento.

Incentivar os melhores e mais brilhantes funcionários federais a deixar o cargo pode não fazer o governo operar de forma mais eficiente. Mas vai fazer com que a economia opere com mais eficiência, transferindo pessoas talentosas do trabalho burocrático improdutivo para um setor privado que visa ao lucro.

O DOGE não foi o momento libertário. É possível sonhar com o que um governo de Rand Paul poderia ter feito com a ajuda de um Congresso cheio de Justin Amashes e Thomas Massies. Mas os Estados Unidos não elegeram Rand Paul como presidente. Elegeram Donald Trump.

Rand Paul é um senador republicano dos EUA, conhecido por sua defesa do Estado mínimo, das liberdades individuais e por sua atuação alinhada ao libertarianismo | Foto: Shutterstock

O parâmetro relevante para o desempenho do DOGE não é quanto um esforço extremamente competente para enxugar o governo poderia ter realizado. Na verdade, a comparação é o que as alternativas mais prováveis ao DOGE teriam conseguido fazer.

Todas as alternativas plausíveis teriam resultado em um governo maior do que o que obtivemos com o DOGE. Com base nessa métrica, foi um sucesso estrondoso.


Christian Britschgi é repórter da Reason.

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2 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Ainda teve gente criticando, porque ele prometeu corte de trilhão, mas conseguiu ”somente” 150 bi.

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Pra mim esse repórter queu não sei donde vem tá falando javanês

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