Fazia calor e o céu era de brigadeiro em Brasília quando um assessor do senador Ciro Nogueira (PP-PI) chamou a reportagem de Oeste à sala do parlamentar, no horário marcado para a entrevista, pontualmente às 15h30. “Podem entrar e fiquem bem à vontade”, disse o congressista piauiense ao desabotoar o paletó preto e afrouxar a gravata da mesma cor. A facilidade no trato com a imprensa e com a população em geral é fruto da experiência que, desde 1994, ele adquiriu como deputado federal, posição que ocupou por várias legislaturas. A habilidade com articulação política lhe rendeu o cargo de ministro da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro, com quem aparece em inúmeros retratos que decoram o gabinete — na parede no centro de sua sala há uma foto oficial do ex-presidente.
Além de senador, Nogueira comanda o Progressistas (PP), que vai se unir ao União Brasil em uma federação e, assim, se tornar a maior bancada da Câmara e a terceira maior do Senado, além de reunir seis governadores e um quarto dos prefeitos do país. Com essa força política, Nogueira já deixou claro que não estará com o PT em 2026 e que fará o possível para que seu partido entregue os cargos atualmente ocupados no governo Lula 3, como o Ministério do Esporte, sob o comando do deputado federal André Fufuca.

“O presidente governa de forma ultraada e fora de conexão com o nosso tempo”, constatou Nogueira, ao mencionar que vê um presidente de direita sendo eleito em 2026. “É um homem que só olha para o retrovisor.” Nogueira criticou o escândalo do INSS, o mais recente da atual gestão do PT, e se manifestou a favor da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os desvios bilionários que ocorrem nas contas de muitos aposentados.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O PP e o União Brasil vão se unir em uma federação. Os dois partidos, contudo, têm ministérios no governo Lula. Para onde as duas siglas vão em 2026?
Seria muita pretensão apontar um caminho agora. O que posso garantir é que não estaremos com o Partido dos Trabalhadores (PT) no ano que vem. O candidato principal que está aí é Jair Bolsonaro. Se o ex-presidente não puder concorrer, estaremos com quem ele indicar. Para 2026, defendo uma grande união dos partidos de centro-direita no país para termos um candidato único. Penso que já é consenso.

Por falar em PT, como o senhor avalia o governo Lula 3?
Quando o resultado da disputa saiu, pensei: “Poxa, vamos demorar para ganhar outra eleição no Brasil, pois Lula vai vir com um espírito de Mandela para unificar o país”. Ledo engano. Não imaginei que fosse tão ruim. O presidente governa de forma ultraada e fora de conexão com o nosso tempo. É um homem que só olha para o retrovisor, ressentido e magoado com o que aconteceu com a sua vida. Parece-me que veio com desejo de vingança. Além disso, tem uma psicose com Bolsonaro. Lula a a maior parte do tempo falando do nosso presidente. Ele não teve a grandeza de que precisa uma pessoa para unificar o Brasil.
Então o PP vai desembarcar da gestão?
Se dependesse de mim, não teria sequer embarcado. Nesse momento da federação, entraremos no processo de redigir o estatuto. Na sequência, virão as aprovações nas convenções, depois, se depender de mim, vou interpelar o porquê de ainda estarmos no governo. O fato de ocuparmos cargos no primeiro escalão é motivo de constrangimento. E digo isso porque toda vez sou obrigado a tratar do assunto.
O que falta para sair?
Decisão política. Entendo que, antes de mais nada, temos de unificar a federação. Depois que ela for consolidada, discutiremos tudo isso. Já imaginou o PP estar fora do barco, mas integrantes do União Brasil continuarem nele?

Quando se dará o adeus?
Deve ocorrer logo depois das convenções.
Por que houve esse embarque no governo?
Não foi uma escolha partidária, mas, sim, uma decisão pessoal do ministro Fufuca. À época, fiz um apelo a ele, que não me atendeu. Tanto é verdade que o desempenho do governo não melhorou nas votações aqui. A lógica do “dou o cargo e garanto votos” ficou no ado. Hoje, o que vale é a identificação com os projetos políticos. O eleitor, graças a Deus, voltou os olhos para as atividades do parlamentar.
Pela experiência de ter sido um dos articulares do governo Bolsonaro no Congresso, como o senhor vê a ida da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) para uma pasta que tem essa atribuição?
Ela tem um lado positivo. Pelo que me falam, é uma mulher de palavra e de compromisso. No entanto, em virtude dos seus discursos e de sua ideologia, acaba isolando o governo. A ministra, por exemplo, não pode simplesmente jogar na lata do lixo tudo o que falou sobre o Haddad ou as convicções dela a respeito do mundo. Entendo que isso atrapalha muito o desempenho, não tendo como dar certo.

Como está o diálogo do senhor com o presidente Bolsonaro? Quando se falaram?
Antes da manifestação pela anistia, em Brasília, estive com ele. Fui levar o broche da federação para ele se sentir um patrono dessa união. A minha lealdade é total a ele. E meu candidato à Presidência da República, em 2026, vai ser ele ou o dele. O ex-presidente é o grande líder do nosso país. Não vejo justificativa para deixá-lo inelegível.
O senhor é a favor da anistia aos presos do 8 de janeiro?
Totalmente. Entendo que já tínhamos de ter virado essa página. Lembro-me de uma conversa com José Sarney, na festa de aniversário de 95 anos dele. Ao comentarmos a manifestação de 2023, o ex-presidente disse que Lula deveria ter a grandeza de fazer como muitos de seus antecessores que enfrentaram conspirações: anistiar e virar a página. Veja o tempo que o Brasil perdeu discutindo isso. Infelizmente, temos no Brasil um Lula, e não um Juscelino.
Como o senhor vê a costura do STF com o Congresso pela aprovação de um projeto de lei que reduza as penas dos manifestantes, em vez de anistiá-los?
Penso que há muita especulação. Não participei disso. A história é bem estranha. De todo modo, quero deixar claro que sou a favor do texto que está em discussão na Câmara.

O presidente Davi Alcolumbre estaria isolado nesse caso?
Alcolumbre manda sinais um pouco controversos. Para a oposição, ele manda um sinal, para o governo, manda outro. Então, só quem pode responder isso é ele próprio.
A oposição tem os votos necessários para aprovar o perdão na Câmara. Mas e no Senado?
Sim. Hoje, existe um consenso no país de que as penas aplicadas a essas pessoas foram um exagero. O próprio Supremo reconhece esse exagero, porque a moça que foi condenada a 14 anos de prisão já está em casa. Não tem como a pessoa ser condenada a 14 anos e já estar em casa.
O senhor mantém alguma interlocução com o STF?
Tenho uma relação muito boa com todos os ministros, principalmente com o Nunes Marques, que é do meu Estado. Precisa haver diálogo. Agora, tenho minhas críticas. Avalio ser estranho um ministro ficar se expondo o tempo todo. Eles mesmos reconhecem que existe um excesso de exposição do Tribunal. Mas é da democracia.

Recentemente, estourou no governo Lula o escândalo do INSS. O senhor defende uma I?
Certamente. Não entendo como alguém possa ser contra uma I como essa. Até porque testemunhamos uma quadrilha que assaltou o bolso dos aposentados do nosso país. Nós já temos as s e independe da vontade dos presidentes da Câmara e do Senado. Vai ter de instalar. O que ocorreu é inacreditável. Houve um assalto ao bolso dos mais vulneráveis. Cometeram um crime hediondo.
Na discussão sobre o Imposto de Renda, o PP tem uma opinião convergente com a do governo, ou completamente divergente?
Somos completamente convergentes no que diz respeito a isentar as pessoas que recebem até R$ 5 mil. Temos uma discussão nas compensações. Entendo que temos de tirar essa compensação, mas não da classe trabalhadora, por mais que ela ganhe mais. Nós temos uma proposta de tirar as isenções que são dadas no nosso país, em torno de 2,5%; tirar essas e aumentar a contribuição sobre o lucro dos grandes bancos do nosso país, em torno de 5%.
Sobre 2026, o senhor disse que estará com quem o presidente Bolsonaro indicar, caso ele não possa ser candidato. Qual seria hoje, para o senhor, uma chapa adequada para a centro-direita sem Bolsonaro?
Há bons nomes, e um deles é o do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas. Acho que o presidente tem dúvida se vai ser Tarcísio ou alguém de sua família. A decisão final vai ser dele.
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Boa entrevista. Parabéns Cristyan e Deborah.
Infelizmente fica difícil acreditar em uma eleição onde meia dúzia de togados em Brasília quer decidir quem o eleitor pode ou não votar.
Tarcísio de Freitas tem a sua reeleição garantida já no primeiro turno, está fora de questão, Membro da família Bolsonaro será tiro no pé, Ronaldo Caiado não tem a simpatia do Bolsonaro( bom nome), sobrou Romeu Zema, Ratinho Junior e Eduardo Leite, façam suas apostas.
Vaselina, não confio em uma palavra do que ele fala.
Ótima entrevista. Gosto muito do Ciro Nogueira como parlamentar até porque acompanhei sua atuação no impeachment daquela coisa que se chamava presidenta. Agora, ler no último parágrafo a “dúvida” ou a possibilidade de algum familiar do ex-presidente vir em 2026 como candidato da direita, acho dureza…
Excelente enntrevista ,ótimas perguntasExpliquem para a velha imprensa como se faz.uma boa entrevista, não apenas perguntar o quê o entrevistado quer responder mas o que o público gostaria de saber.