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Em tempos ados, criticar vítimas de sequestro ou violência era inaceitável, mas hoje parece que até essas atrocidades podem ser celebradas com prêmios | Foto: Shutterstock
Edição 269

Um novo recorde negativo para o Prêmio Pulitzer

Prêmio de Comentário é concedido a um homem que denegriu os reféns israelenses

Brendan O'Neill, da Spiked
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Em tempos normais, muitas luas atrás, era malvisto denegrir mulheres que tivessem sido sequestradas por homens violentos. Teria sido considerado especialmente doentio depreciar mulheres que tivessem sido sequestradas por um exército de antissemitas durante um sangrento carnaval de matança de judeus. Falar mal dessas vítimas provavelmente resultaria no desprezo de uma sociedade decente. Não é mais assim. Agora você ganha o Prêmio Pulitzer.

O Prêmio Pulitzer de Comentário deste ano foi concedido a Mosab Abu Toha, um escritor de Gaza que vive nos Estados Unidos. O prêmio é supervisionado pela Escola de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade de Colúmbia. Os juízes elogiaram os ensaios de Abu Toha na New Yorker por mostrarem ao mundo “a carnificina física e emocional em Gaza”. Eles tiveram muito menos a dizer sobre sua histeria on-line, em que ele chamou os reféns israelenses de “assassinos” e denunciou comentaristas da BBC como “pessoas sórdidas” por ousarem sugerir que as crianças da família Bibas foram assassinadas pelo Hamas.

Mosab Abu Toha, premiado com o Pulitzer de Comentário, foi elogiado por suas reflexões sobre Gaza, apesar de sua visão distorcida e tendenciosa | Foto: Reprodução/X

Os detetives do site Honest Reporting revelaram postagens de Abu Toha. E não são nada bonitas. Ele se exaltou depois da libertação da refém britânico-israelense Emily Damari, em janeiro deste ano. “Como essa garota pode ser chamada de refém?”, perguntou ele no Facebook. Ela é uma “soldada”, afirmou ele, que havia sido “detida” pelo Hamas. E “esse é o caso [da] maioria dos ‘reféns’”.

Note as aspas. É incrível como a pontuação pode ser odiosa. A implicação é tão clara quanto vil: não são reféns de verdade. Não são inocentes. São ocupantes que foram levados como prisioneiros de guerra pelo Hamas. Aqui, Abu Toha tanto legitimou o Hamas, tratando-o como um exército normal fazendo coisas militares normais, quanto denegriu os reféns, chegando ao ponto de lhes roubar o título. “Soldados”, “ocupantes” — ou seja, os desgraçados tiveram o que mereceram.

O crime de ser judia na Terra Santa

O que ele disse é falso. Damari não era uma soldada quando foi sequestrada. Ela havia servido na IDF anos antes, como todos os jovens adultos em Israel são obrigados a fazer. Mas, no dia em que foi violentamente sequestrada, ela era apenas uma israelense, apenas uma judia, como a maioria dos reféns. Foi por isso que foi levada: pelo crime de ser judia na Terra Santa e, melhor ainda, do sexo feminino, o que tornou ainda mais fácil para os brutos neofascistas a levarem para Gaza. Eles invadiram sua casa no kibutz Kfar Aza, atiraram nela e a mantiveram em cativeiro nas condições mais horríveis por quase 500 dias.

A afirmação de Abu Toha sobre Damari ser uma soldada no momento do sequestro é falsa; ela foi sequestrada apenas por ser judia e mulher enquanto vivia no kibutz Kfar Aza | Foto: Shutterstock

Em suas explosões na mídia social, Abu Toha estava essencialmente mudando a roupagem de um crime contra a humanidade para um ato de resistência. Foi uma espécie de negação de atrocidade, em que a captura racista de judeus foi reimaginada como a detenção justa de soldados. Em uma carta aberta e contundente ao conselho do Prêmio Pulitzer, Damari descreveu Abu Toha como o “equivalente moderno de um negacionista do Holocausto”. Ao “questionar o próprio fato do meu cativeiro” e do cativeiro dos outros israelenses que foram levados, ele “nega a verdade [e] apaga as vítimas”, escreveu. E agora, continua ela ao conselho do Pulitzer, vocês “se juntaram a ele nas sombras do negacionismo”.

Abu Toha proferiu ataques virtuais ainda piores. Chamou os reféns israelenses de “assassinos que se alistaram no exército” e criticou a mídia global por “humanizá-los”. Sim, Deus nos livre de alguém confundir um israelense com um ser humano. Ele atacou a BBC quando a emissora noticiou as alegações de que os terroristas do Hamas haviam usado as próprias mãos para matar as crianças da família Bibas: Ariel, de 4 anos, e Kfir, que tinha apenas 9 meses quando o Hamas o levou para uma prisão infernal em Gaza. Ele também era um soldado, Toha? “Se vocês não viram nenhuma prova, por que publicaram isso?”, perguntou ele à BBC. E respondeu à sua própria pergunta: “é porque vocês são pessoas sórdidas”.

Mais irritado com a cobertura do que com as mortes

Sabe o que é sórdido? Ficar mais irritado com a cobertura do sequestro e da morte de bebês judeus do que com a própria atrocidade. Imagine quanto você precisaria estar mergulhado na lama da israelofobia para gritar “sórdido” não contra os fascistas que mantiveram crianças judias em cativeiro, mas contra a BBC por noticiar a possibilidade de as crianças terem sido mortas pelas mãos de alguém. É uma prova da podridão moral da elite literária anglo-americana que pessoas como essa sejam premiadas agora.

Abu Toha atacou a BBC por relatar a morte das crianças da família Bibas, Ariel e Kfir, assassinadas pelo Hamas | Foto: Reprodução/X

É um novo recorde negativo para o Pulitzer. O que não é pouca coisa. Em 2023, o Prêmio de Crítica Literária foi concedido a Andrea Long Chu, um homem que se disfarça de mulher e que escreveu coisas grosseiramente misóginas. Certa vez, ele descreveu “o c*” como “uma espécie de vagina universal por meio da qual a feminilidade sempre pode ser ada”. “Ser f***** faz de você uma mulher porque ser f***** é o que acontece com uma mulher”, escreveu ele. Isso é o que se considera um texto digno de um prêmio agora? Homens de vestido negando a verdade sobre a feminilidade, e homens de Gaza negando a verdade sobre a injusta subjugação de Emily Damari? Homens que acham que as mulheres só querem ser f******, e homens que acham que as mulheres israelenses merecem ser f****** pelo Hamas? Se isso for uma sociedade literária, me excluam dela.


Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024. Brendan está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “A grotesca traição da esquerda às mulheres e aos judeus”

2 comentários
  1. Paulo Ferreira
    Paulo Ferreira

    Barbaridade. Vergonha alheia. Columbia U. antes irada por mim…

  2. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    Não consigo entender como pessoas assim são aceitas com estranha normalidade em nossas sociedades. A solução para elas seria o aeroporto, na melhor das hipóteses.

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