Centralia, uma pequena e próspera cidade na Pensilvânia, na Costa Leste dos Estados Unidos, foi condenada à morte depois que o fogo em um aterro sanitário fugiu do controle e alcançou um conjunto de minas de carvão, em 27 de maio de 1962. As tentativas frustradas de conter o incêndio, o emaranhamento burocrático e decisões incompetentes foram fatais. Desde então, um inferno subterrâneo se espalha envenenando o ar, a terra e a água.
Fundada em 1866, Centralia cresceu rapidamente graças à mineração de antracito, uma forma de carvão altamente eficiente e valiosa. A indústria de carvão alimentava a economia local. No auge, a cidade tinha 2 mil habitantes e várias minas ativas, além de estabelecimentos comerciais, escolas e igrejas.

Era um domingo de maio quando a prefeitura de Centralia decidiu atear fogo em um aterro de lixo que cheirava mal próximo ao cemitério. A intenção era deixar a cidade limpa para o Memorial Day — homenagem aos mortos em combate na Segunda Guerra Mundial —, que ocorreria dentro de alguns dias. No entanto, o fogo não foi completamente extinto e se infiltrou por galerias subterrâneas de mineração de carvão, queimando a profundidades de até 90 metros. A extinção do fogo, alimentado por material altamente inflamável, tornou-se praticamente impossível. A cidade arde em chamas desde então. São mais de 60 anos de fogo contínuo, e a previsão é de que a queima dure cerca de 250 anos ao longo de 13 quilômetros, abrangendo 1,4 mil hectares, antes de esgotar o carvão que a alimenta.
A partir daquele dia o caos foi instalado e a situação ficou insustentável para os moradores. Durante as décadas seguintes, mais de US$ 7 milhões foram gastos para tentar conter o fogo, incluindo inundações e a selagem dos túneis, mas nenhuma teve sucesso. Afundamentos no solo e liberação de gases tóxicos, incluindo monóxido de carbono, começaram a acontecer à medida que o incêndio subterrâneo persistia.
Nos anos 1980, as coisas tomaram um rumo sinistro: vários problemas de saúde foram reportados pela população em decorrência dos subprodutos do fogo, como monóxido de carbono, dióxido de carbono e uma insuficiência de níveis saudáveis de oxigênio. Os moradores começaram a desmaiar dentro de casa por causa do vazamento de monóxido de carbono no porão. Em seguida, os tanques de gasolina subterrâneos do posto de abastecimento da cidade começaram a esquentar. Foi então que o governo americano reconheceu a gravidade da situação e interveio para realocar as famílias. Um programa de reassentamento foi iniciado, grande parte dos moradores aceitou a proposta, e casas, escolas e prédios foram demolidos, deixando para trás uma cidade fantasma. Em 1992, o governo da Pensilvânia formalmente desapropriou os imóveis restantes na região.



O incêndio ainda queima sob a cidade, e a paisagem é marcada por fumaça saindo do solo, rachaduras nas estradas e sinais de afundamento. A antiga Rota 61, que atravessava Centralia, teve que ser fechada e desviada em razão dos danos causados pelo incêndio subterrâneo. Essa seção da rodovia é agora conhecida como “Graffiti Highway”, coberta de pichações e usada como atração turística.
Visitantes que vão ao local são confrontados por vias fantasmas e um silêncio absoluto, quebrado somente por ruídos ocasionais do fogo. Hoje, resta menos de uma dúzia de pessoas. Nessa paisagem, a única coisa que se destaca no horizonte é uma igreja ucraniana branca com a cúpula azul, erguida em 1911.
O que tornou Centralia conhecida em todo o mundo foi o roteiro escrito por Roger Avary para o filme Terror em Silent Hill, que foi dirigido por Christophe Gans e lançado em 2006. Ela também serviu de inspiração para a cidade fictícia de Silent Hill, no jogo e filme de terror de mesmo nome, que capturou a atmosfera sinistra de Centralia.

Daniela Giorno é diretora de arte de Oeste e, a cada edição, seleciona uma imagem relevante na semana. São fotografias esteticamente interessantes, clássicas ou que simplesmente merecem ser vistas, revistas ou conhecidas.
Leia também “A farsa do ‘bom nazista'”
O STF deveria ser transferido pra lá