Ministra Marina Silva e senador Marcos Rogério, durante Comissão de Serviços de Infraestrutura (27/5/2025) | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Edição 271

Incompetência não é questão de gênero

Marina Silva recorre à cartada da misoginia para disfarçar seu desempenho pífio e a militância ambientalista que atrasa o desenvolvimento do país

Nesta semana, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reapareceu no noticiário depois de longos meses. O motivo foi um bate-boca com senadores, seguido do abandono de uma audiência na Comissão de Infraestrutura, alegando ter sido vítima de machismo e racismo. Marina é um retrato do governo Lula: culpa os outros ou recorre ao vitimismo para disfarçar a própria incompetência.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, reapareceu no noticiário depois de longos meses, após um bate-boca com senadores (27/5/2025) | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Antes de analisar o refúgio da ministra na cortina identitária — preconceito por gênero, raça etc. —, a pergunta inicial é: por que o clima esquentou na audiência? A resposta é simples: Marina Silva não queria falar da paralisação das obras de reconstrução da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. O debate era estritamente técnico, sobre uma via crucial que corta a Amazônia, aberta na década de 1970 e depois abandonada pelo poder público.

Aos fatos: a licença prévia para recuperar a rodovia foi emitida em 2022, no governo Jair Bolsonaro, mas está suspensa por uma canetada, em caráter liminar, da juíza Mara Elisa Andrade, da 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária do Amazonas. Ela atendeu a um pedido feito pela ONG Observatório do Clima. A multa se um único trator tentar asfaltar a pista é de R$ 500 mil por dia.

Por que Marina não queria falar dessa obra? Porque ela teria de discordar dos seus aliados das ONGs, dos técnicos do Ibama, que ela chefia, e dos especialistas da Universidade de São Paulo (USP). Todos eles entendem que asfaltar a estrada vai prejudicar a biodiversidade e o clima da região, além de impedir o o a desmatadores da floresta.

BR-319, que liga Manaus a Porto Velho | Foto: Reprodução/Wikipedia

Três senadores da Região Norte tentaram argumentar contra a militância ambientalista: Omar Aziz (PSD-AM), Plínio Valério (PSDB-AM) e o presidente da Comissão de Infraestrutura, Marcos Rogério (PL-RO). Eles disseram que o asfaltamento vai alavancar o desenvolvimento regional e melhorar a vida de quem precisa fazer o trajeto entre as capitais do Amazonas e de Rondônia — inclusive, diminuindo a ocorrência de acidentes graves. Lembraram que, na temporada de chuvas, é impossível dirigir no local por causa de alagamentos e caminhões atolados (veja o vídeo abaixo). Mais: como fica quem precisa de deslocamento rápido por questões médicas? E o abastecimento de alimentos e combustíveis? E no período da seca, quando os rios não são trafegáveis?

Omar Aziz protagonizou discussão com Marina Silva sobre licenciamento ambiental (27/5/2025) | Fonte: Agência Senado

“A senhora atrapalha o desenvolvimento do país”, disse Aziz. “Digo isso com a maior naturalidade do mundo. Tem mais de 5 mil obras paradas por causa dessa conversinha de ‘governança nhenhenhém’”.

Marina rebateu. “Desde o processo do anúncio da estrada, quando se fala dela, a primeira coisa que temos é uma corrida de grilagem”, disse. “O que se propõe é a avaliação ambiental estratégica. Não é questão ideológica, é combater desmatamento, exploração ilegal de madeira e garimpo ilegal.”

“Manaus é a única capital no planeta com mais de 2 milhões de habitantes que não é ligada por asfalto a outra cidade. Por que no Pará se pode destruir uma floresta de 13 quilômetros para fazer pista para que os donos de jatos possam trafegar da sede para os seus hotéis na COP30 [conferência do clima, marcada para novembro]? Ninguém diz nada. Por que só a gente?” (Plínio Valério, senador do Amazonas.)

YouTube video

A irritação de Marina piorou quando Aziz lembrou que a ministra foi eleita deputada federal em 2022 pelo Estado de São Paulo, a centenas de quilômetros do Acre, seu berço político. “A gente quer, sim, a BR-319 para ear, como a senhora eia na Avenida Paulista hoje em dia.”

O entrevero levou para o debate o presidente da comissão, Marcos Rogério, que precisou silenciar os microfones várias vezes. Marina, contudo, continuou falando fora do microfone, em tom imperativo. Quando os ânimos se exaltaram mais ainda, ela ergueu o dedo em riste e chegou a encostar no braço de Rogério, que a repreendeu. “Essa é a educação da ministra Marina Silva, ela aponta o dedo”, disse. A ministra reagiu: “Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou”. Teve início uma gritaria. “Agora é sexismo, ministra? Me respeite. Ponha-se no seu lugar.”

Na sequência, a fala de Plínio Valério provocou o tumulto final. A briga entre os dois é antiga: ele foi presidente da I das ONGs no Senado, que jogou luz sobre negócios milionários dessas entidades com aliados da ministra, inclusive o número 2 da pasta, João Paulo Capobianco. O assessor estava ao lado dela na audiência de terça-feira, 27.

“Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher”, disse Plínio Valério. “Eu sou as duas coisas”, respondeu Marina. “A mulher merece respeito, a ministra, não”, continuou o senador. “Ou ele me pede desculpa, ou eu vou me retirar”, ameaçou ela.

Nem Plínio Valério nem qualquer outro senador pediu desculpas, e Marina foi embora. O que o país assistiu na sequência foi a manjada cantilena do ataque a uma mulher, negra e de infância pobre, reverberada por jornalistas da velha imprensa e parlamentares de esquerda.

Marina deixou a reunião da Comissão de Infraestrutura após fala de Plínio Valério (27/5/2025) | Fonte: Agência Senado

Vitimismo estrutural

Diante do episódio descrito acima, se existisse uma bolsa de apostas em Brasília para acertar quem seria a primeira pessoa a manifestar solidariedade a Marina Silva e tentar turbinar a narrativa do vitimismo, a primeira-dama Janja da Silva estaria entre os favoritos. Foi o que aconteceu. Segundo o site Metrópoles, Janja enviou um áudio pelo WhatsApp para a ministra que, curiosamente, chegou imediatamente às redações. O conteúdo é similar ao que ela publicou mais tarde nas redes sociais.

“Sua bravura nos inspira e sua trajetória nos orgulha imensamente. Uma mulher reconhecida mundialmente por sua atuação em relação à preservação ambiental jamais se curvará a um bando de misóginos que não têm a decência de encarar uma ministra da sua grandeza”, disse Janja.

Foi a senha para a bancada do PT, Psol e satélites da esquerda correrem para o X e o Instagram. O mesmo aconteceu com jornalistas em TVs e sites. Nos comentários, transbordaram expressões como “machismo”, “misoginia” e “racismo”. Mas e a rodovia amazônica, tema do debate? Afinal, a comissão é destinada à infraestrutura. A maior parte dos comentaristas nem sequer sabia onde ela ficava no mapa.

Uma jornalista de TV lembrou que, na I das ONGs, quando questionada sobre a “caixa-preta” de financiamentos a essas entidades, Marina também foi “ofendida” pelo senador Plínio Valério por ser negra. De fato, ela protagonizou uma cena parecida, porque não aprova o termo mundial “black box” — equipamento que grava o áudio da cabine de aeronaves, consultado em caso de acidentes graves. Na ocasião, quando Plínio Valério usou a expressão “caixa-preta” das ONGs, a ministra disse que o termo era racista. Segundo ela, o correto seria adotar “caixa-laranja”.

A audiência de terça-feira durou três horas e tinha a intenção de questionar a ministra sobre o esvaziamento de sua pasta, que só acumula recordes negativos de desmatamento e não destravou nenhuma obra relevante em dois anos e meio. Nas mãos de Marina, o país registra hoje os piores índices de degradação florestal, além da destruição do Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. No caso da Amazônia Legal, o estrago atingiu quase 34 mil quilômetros quadrados neste ano — aumento de mais de 480% em relação ao período anterior. A aritmética não deixa dúvidas: o cenário nunca foi tão ruim. Marina argumenta que a culpa é do fenômeno El Niño (que aquece a água dos oceanos), dos incêndios provocados pela seca e do clima global.

Gráfico: Reprodução/Poder360

É evidente que o clima de civilidade é desejável nos debates políticos, mas essas audiências têm a finalidade de fiscalizar o que os ministros estão fazendo. Trocando em miúdos: eles comparecem ao Congresso para prestar contas, como prevê a Constituição. Logo, os embates são duros: vide as agens recentes de Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) ou do chanceler Mauro Vieira, nesta semana. Por que com Marina Silva deveria ser diferente? Por que ela é mulher? No governo Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi poupado de críticas pelo Congresso e pela imprensa?

O fato é que Marina Silva foi colocada à frente da pasta justamente porque Lula sabia do escudo que ela detém com os amigos nas redações, no meio artístico e nas entidades dentro e fora do país de militância ambientalista radical. É uma figura imaculada nesses círculos. Na terça-feira, contudo, nenhum senador estava preocupado com a trajetória dela na época de Chico Mendes e dos seringais, nem se tinha sido humilhada pelo próprio PT no ado ou com questões de gênero e raça. Os parlamentares queriam resolver problemas em obras que atrasam o futuro do país — por militância e incompetência dela.

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4 comentários
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Por que essa velha desgraçada não morre logo e nos livra de sua presença nefasta?

  2. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Silvio Navarro, artigo excelente. Marina Silva é conhecida por não conseguir resolver nada em pastas que atuou,não põe a mão na massa,não e muito chegada ao trabalho. Sempre se vitimiza por ter sido alfabetizada aos dezesseis anos ter nascido pobre e sofrer por ser negra.Bem aqui no Brasil ela prosperou muito, agora é ministra do meio ambiente do governo Lula é já ocupou cargos importantes, não poderia de forma alguma estar indignada com o tratamento recebido pelos colegas,apenas queriam conversar sobre uma estrada que beneficiria muitos na região em que já morou.Bateu a histeria e não deu outra,usou o mesmo discurso, garimpo ilegal e roubo de madeiras nobres. Ministra a senhora já fechou os olhos muitas vezes a depredação da madeira brasileira, agora está brava?Apresente um plano e impeça os roubos de ONGS que fazem o que desejam na Amazônia.

  3. Eldo Amílcar Franchin
    Eldo Amílcar Franchin

    Para merecer comida de r. o de figura nociva como o senador aziz ,dona Narina não deve ser só incompetente e .É na verdade muito esperta.

  4. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    Lembrando, a mulher que exige respeito chamou o agronegócio brasileiro, que salva o Brasil da penúria econômica, de “ogronegócio”. Felizmente engana pouca gente atualmente.

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