Não quero soar pessimista demais, e sempre procuro lembrar do alerta de David Hume: “O hábito de culpar o presente e irar o ado está profundamente arraigado na natureza humana”. Não sou daqueles que repetem que tudo está uma porcaria enquanto idealizam um ado perfeito inexistente. Mas é preciso ser realista: o grau de deterioração moral da sociedade brasileira não tem precedentes. A destruição institucional só perde para a degradação moral, com o péssimo exemplo vindo de cima: o ladrão que voltou à cena do crime, como diria seu vice, tornando-se uma vez mais presidente.
As cenas de um MC desses com elos com o crime organizado saindo da prisão após apenas quatro dias para ser ovacionado por uma multidão representam a ilustração perfeita dessa sociedade da bandidolatria. Enquanto isso, um humorista era condenado a oito anos de prisão por fazer piadas! Criar filhos decentes num país desses se tornou um desafio cada vez maior, pois o entorno todo é podre. Você vai ensinar ética para seu filho, que vai depois para o YouTube ver Sérgio Cabral como influenciador “descolado”. A putrefação moral atingiu níveis inimagináveis em nosso país.
Novamente, não quero dizer que absolutamente tudo seja novidade. No Rio, por exemplo, sempre houve muita promiscuidade entre crime e política, e bicheiros eram recebidos por autoridades com a maior naturalidade. Mas parece inegável que as coisas estão piorando, e rapidamente. Os valores estão todos invertidos, o Brasil vem se tornando um narcoestado, e a quadrilha no poder, em conluio com o Supremo Tribunal Federal e a velha imprensa, persegue cidadãos honestos enquanto protege criminosos.

Sim, houve um golpe em nossa democracia, justamente daqueles que insistem que era Bolsonaro quem planejava dar um golpe. Levaram na mão grande, impediram o voto impresso, usaram o TSE para censurar um lado e fizeram de tudo para que o outro fosse vencedor. Eles até se gabam abertamente disso: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. Mas esse estágio avançado de degeneração da sociedade não seria possível sem um arcabouço cultural por trás. São muitos cúmplices ou, na melhor das hipóteses, indiferentes e acovardados diante do quadro sombrio. Parcela significativa do povo e da elite parece não dar a mínima para esses absurdos. Até a água bater em seus bumbuns eles seguem normalmente com suas vidas, ignorando o enorme bode fedido na sala.
Essa destruição tem método, foi planejada, vem de longa data. A esquerda pensa no longo prazo, tem paciência, consegue esperar. Vai plantando vento aos poucos para colher o caos da tempestade lá na frente, o a o derrubando tabus, destruindo valores, enfraquecendo famílias. São décadas de revolução cultural, muitas vezes ignorada pelos adversários conservadores, que acreditam só na política do cotidiano. A esquerda tem pensamento estratégico e sabe muito bem que a guerra cultural é a mais relevante de todas.

Para ter uma ideia de como tudo isso é antigo, Emil Farhat publicou em 1966 um livro chamado O País dos Coitadinhos. Creio que hoje apenas em sebo se possa comprá-lo. Ali já constava a tática de inversão de valores que enaltecia a mediocridade para atacar tudo que presta. Seguem longos trechos para ficar claro que não há nada muito novo sob o sol:
“É preciso que as novas gerações, desavisadas ante certas distorções da piedade, e nisto tão ludibriadas, se acautelem contra as artimanhas intelectuais desses exploradores do “coitadismo”. Pois suas armadilhas sibilinas já quase chegam à audácia de erigir os albergues em símbolo dos lares que devemos ter… e parecem querer fazer dos pobres favelados a própria imagem ‘heroico-romântica’ do que todos deveríamos ser…
[…] Não há dogma político, nem sofisma religioso que possa fazer aceitar a inaptidão do incapaz, ou a inércia do preguiçoso, ou a improdutividade do desleixado, ou a esterilidade do indivíduo sem iniciativa, como padrão além do qual tudo é ‘espoliação’: a dedicação do estudioso, a persistência do incansável, a inventividade do talentoso, a audácia do pioneiro, o inconformismo do homem dinâmico, a insatisfação do realizador.
Medir para baixo é estratagema dos frustrados e complexados que querem assim deter a potencialidade criadora dos cidadãos capazes.
[…] O que leva as nações para a frente é a divina obsessão dos que amam competir, dos que incansavelmente constroem, dos inquietos criadores, dos que rompem a inércia; dos que rasgam os pantanais humanos ainda que espadanando a preguiça; dos que desabam dilúvios de atividades ainda que estas perturbem a placidez do vazio e a esterilidade do nada.
Uma nação marca o seu destino quando a massa do seu povo a a entender que a vida é uma permanente maratona viril de vontade, talento e audácia, onde não há lugar para a conspiração dos mesquinhos que buscam fanaticamente a compensação de bitolar todas as coisas pela curteza da sua inaptidão, ou pelo descomo das suas frustrações.
[…] Este país não pode desorientar-se pela sinistra litania dos que se perderam ou se marginalizaram e querem, por isto, desmarcar e confundir as rotas alheias. Nem pode ar a temer a ação dos mais capazes — forçando-os a que simplesmente se igualem aos que fazem mal as coisas, ou nem as fazem. Nem pode punir o mérito, por este exceder ao desvalor dos que não se cuidaram. Nem deve estiolar-se na ideia estéril e mesquinha de que tirar dos que conseguem ter é a única e só maneira de dar aos que não sabem ter.“
Não soa atual? O empreendedor é visto como vilão no país que maltrata quem cria riqueza e coloca o Estado como uma espécie de Robin Hood. Os vagabundos, os preguiçosos, os incapazes e os inúteis aram a gritar em coro exigindo seus “direitos”, enquanto perseguem os cidadãos produtivos, trabalhadores, honestos. Se é assim faz tanto tempo, então desanima pensar que não haverá uma solução, ao menos no curto prazo. Pelo contrário: as coisas estão piorando, e numa espiral assustadora. É triste constatar isso, mas o olhar à distância, com realismo, permite-me concluir: estamos acompanhando a degeneração de toda uma sociedade. Salve-se quem puder.

Leia também “A caça aos sensores”
Constantino, vc está certo em tudo. E certos estão os autores citados. Entretanto nós cidadãos que temos que pagar as contas, que não somos herdeiros, que temos família para sustentar, não ousamos levantar os olhos da labuta de cada dia. Já estamos oprimidos e com medo.
Ééé “Consta”… Na “mosca”, de novo! É isso mesmo, a esquerda gramcista; que prega exatamente “isso”: realizar a “revolução cultural” para colher os frutos somente após 50, 60 anos. E eis que o tempo ou e eles estão, agora, colhendo os seus “frutos”. É aquela mesma estória da rã. Quando colocada dentro da água quente ela rapidamente pula pra fora da vasilha. Porém, se for colocada na água morna e for esquentando essa água lentamente até a fervura, a rã vai se acostumando (por ser réptil) e acaba por morrer na quentura da água no final.
Eu, particularmente, estou muito desacreditado deste país. Não vejo saída institucional nem a longo prazo.
“O Amor venceu!”
Brasil, agora, só intervenção Divina…
“O País dos Coitadinhos”, do Emil Farah, foi um dos meus “formadores ideológicos” nos tempos da faculdade. Farah também advertiu sobre a deterioração da Justiça do Trabalho, com a criação dos garantistas, deixando de lado a Lei, sempre decidiam quaisquer causas tabalhistas pró funcionários. Era o tempo da explosão de poder dos sindicalistas nos rumos da política, como sovietes que pariram o lulopetismo devastador e rancoroso no pós regime militar.
Gostaria de poder reler esse verdadeiro e inesquecível brado de alerta.
A coisa está tão ruim nesse país que eu não aguento mais mais olhar e ouvir qualquer pseudo-autoridade de qualquer poder, eu o mal tenho náuseas. Não tem mais espaço pra qualquer esquerdista defender o sistema. Todas as pessoas existentes no mundo sabem o que se a com a política e sabem discernir o que é correto e o que não é
👏👏
Constantino faz uma bela análise sobre a decadência institucional brasileira. Tudo começa com corruptos no poder e sua ideologia predadora e inconsequente. A gênese está lá no STF quando tiraram o protagonista da decadência da cadeia e o ajudaram a se eleger. O resto são consequências inevitáveis, que refletem a cabeça daqueles que abusam do poder.
Triste realidade, cuja estamos vivenciando hoje. Nunca me imaginei dentro deste Brasil nestas condições. Tenho bastante idade já vivi dias na melhores, mas fico imaginando quem é jovem e vem vindo atrás de mim.
Verdade inconveniente, o Brasil escolheu o Mc e condenou o juiz honesto nessa semana.
Constantino está assustadoramente certo no seu texto de hoje. E isso é desesperador para qualquer pessoa que não seja um completo idiota. Quem puder, que saia desse país o quanto antes.