Edição 06

A América Latina e o Estado condutor da economia

A Cepal, agência da ONU, parece ignorar as evidências de que o mercado livre produz riqueza e reduz a miséria

“A América Latina perdeu o bonde da política industrial e da inovação.” A culpa é do “neoliberalismo puro e duro” e de um modelo econômico, leia-se capitalismo, que concentra a riqueza em poucas mãos e só apresenta inovação tecnológica.

Essas palavras foram ditas por Alicia Bárcena recentemente numa entrevista, na qual conclui que o modelo econômico se “esgotou”. Bárcena é secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), uma agência da ONU.

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A análise é lamentável, e a ideia de reavivar a política industrial, péssima, mas faz parte de uma corrente intelectual cada vez maior a favor do Estado empresarial, que, sem dúvida, tem apoio de empresários que buscam amparo estatal. Os movimentos nessa direção ficam ainda mais explícitos neste momento da pandemia de covid-19. A ideia é péssima porque a política industrial fracassou mundo afora e de maneira dramática na América Latina no século ado, quando a Cepal a promovia, e seus conselhos eram levados a sério.

Já nos anos 1950 ficou evidente a desconfiança da Cepal no comércio livre e no mercado.

A agência começou a dar apoio intelectual às políticas protecionistas e de industrialização que a região implementou de modo entusiasmado por décadas. Se as indústrias nacionais não eram protegidas, a dependência da América Latina de matérias-primas simplesmente não permitia que a região se desenvolvesse diante da competência dos países industrializados. Dizia-se que os preços das exportações dos países pobres cairiam à medida que os dos países ricos subissem.

A realidade refutou essa teoria. Enquanto um grupo de países asiáticos como Taiwan e Coreia do Sul se abriu para o mundo e voltou a enriquecer, a América Latina se viu tomada por crises econômicas recorrentes até o fim da década perdida de 1980.

Hoje, a Cepal e outros dizem não acreditar no protecionismo. Além disso, os defensores do Estado empresarial afirmam que o sucesso dos países asiáticos se deve exatamente à política industrial. No entanto, em seu recente livro sobre o tema, Free Trade and Prosperity (Livre Mercado e Prosperidade), o economista indo-americano Arvind Panagariya chega à mesma conclusão de diversos estudos: a evidência sistemática demonstra que a competência de mercado, e não a política industrial, foi a chave do crescimento naqueles países. Ademais, a política industrial impôs custos desnecessários.

A secretária-executiva da Cepal culpa o modelo econômico por gerar desigualdade e insatisfação e aponta os países nórdicos como exemplo de sucesso. Mas tais países são bem-sucedidos exatamente porque são infinitamente mais capitalistas que a América Latina. No índice de liberdade econômica do Fraser Institute, nossa região estaria na posição 91 se fosse considerada um país, ao o que a Escandinávia ocupa a posição 25.

Bárcena elogia os governos da Argentina e do México e acredita que a política industrial nesses países é promissora. Os dois ocupam as posições 146 e 76, respectivamente, no índice de liberdade econômica. Eles de fato seriam exemplos de que o modelo capitalista se esgotou?

A Cepal parece ignorar o fato de que só pode haver mais inovação nas economias mais abertas.

Finge ignorar ainda que a inovação na América Latina é prejudicada pelas grandes barreiras impostas pelo Estado no que diz respeito a regulamentação excessiva, impostos, corrupção istrativa, entre outras. Em vez de o Estado outorgar favoritismos, seria muito melhor que removesse barreiras.

Na América Latina, o Estado não cumpre bem suas funções básicas como garantir a segurança ou a infraestrutura. Como se espera que a inovação tecnológica seja promovida? A política industrial nem sequer funciona bem nos países nórdicos. Um novo estudo do centro de pesquisa sueco Ratio revelou que a política industrial no país distorceu o mercado, criando empresários em busca de subsídios, sem melhorar a atividade industrial.

A experiência mundial nos aconselha a não levar a Cepal a sério.

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Ian Vásquez é diretor do Centro para Liberdade e Prosperidade Global do Cato Institute, colunista do jornal El Comercio (Peru), coautor de The Human Freedom Index e editor do livro Global Fortune — The Stumble and Rise of World Capitalism.

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20 comentários
  1. Carmo Augusto Vicentini
    Carmo Augusto Vicentini

    Nada! Absolutamente nada que venha da ONU pode ser levado a sério.

  2. Eratostenes Araujo
    Eratostenes Araujo

    Em 1994, em artigo, a Fortune já sinalizava que desde 1991 o setor industrial tinha sido ultraado: “information age capital spending by US companies exceed for the first time industrial age spending”, in Stewart, Thomas, “The Information Age in Charts.” Fortune, April 4 1994.
    De lá para cá, com o amadurecimento da economia globalizada (na época a globalização ainda se encontrava em estágio emergente) a distância entre esses segmentos da economia só aumentou.

    1. Érico Borowsky
      Érico Borowsky

      Quem ainda leva a sério a ONU e seus ramos
      a sério?

  3. Edmundo Baracat Filho
    Edmundo Baracat Filho

    E complementando, se não existisse esses órgãos enganadores, tais como , ONU, OEA, OTAN, OMS, ONGs,CEPAL, DIREITOS HUMANOS, TRANSPARENCIA INTERNACIONA, etc, essas porcarias sediadas na Suiça, Bélgica, cabides de emprego de burocratas vagabundos, o mundo se acertaria com contatos bilaterais ou coletivos, se necessários.

  4. Edmundo Baracat Filho
    Edmundo Baracat Filho

    Artigo sério e comprometido com a verdade e com a realidade !!

  5. Wilson Ferreira
    Wilson Ferreira

    Estes órgãos são a vanguarda do atraso. São mecanismo do sistema socialista e comunista. São lixos . Toca fogo neles todos!

  6. Paulo Antonio Neder
    Paulo Antonio Neder

    A tal Barcena, ao elogiar a política adotada pela Argentina e México deve viver em outro planeta. A ONU, infelizmente, é dominada por esquerdistas.

  7. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    Onde tem comunista tem ignorância e inexatidão. Vivem de espoliar o capitalismo enquanto lutam contra ele. São parasitas de merda. Não sei como os países livres e prósperos têm tanta tolerância que essas traças. Vivem do nosso dinheiro, mas marcando o contra nós. Isso tem que acabar.

  8. Carlos Alberto Wanderley Jr
    Carlos Alberto Wanderley Jr

    Organizações como ONU, OMS e outras deveriam ser repensadas e reestruturadas após a pandemia, e até mesmo descontinuadas algumas delas. Não desempenham o trabalho que deveriam, com objetivos e eficiência. Interessante que são sustentadas na sua maioria por nações democratas e capitalistas , mas dirigidas por pessoas da esquerda. Não pode dar certo.

    1. Luiz Antonio Fraga
      Luiz Antonio Fraga

      Concordo com a sua colocação. A ONU, totalmente aparelhada pelas esquerdas, a muito perdeu a credibilidade.

  9. Francisco Ferraz
    Francisco Ferraz

    A experiência mundial nos aconselha a não levar em consideração qualquer coisa que seja dita pela onu ou quaisquer de seus organismos…são uma corja esquerdista, e que pasmem, vive às custas das polpudas verbas que países capitalistas, como os USA, lhes entregam! E para essa cambada fazer o que? Viver a dizer asneiras como essa tal Alícia(da) Barcena citada na matéria! Segundo ela: O modelo econômico da AL se esgotou, e bom mesmo é a Argentina e o México (governados por esquerdistas, claro…). Por aí já se percebe como essa estúpida entende do que está falando! Eheheheh!
    Tá falado!

  10. Altair José Alves De Souza
    Altair José Alves De Souza

    Não deveria ser levada a sério, mesmo! Acho que até a ONU, nas atuais circunstâncias, não deveria ser levada a sério. Está totalmente desvirtuada da ideia que a criou.

    1. Paulo Renato Versiani Velloso
      Paulo Renato Versiani Velloso

      Concordo. Adiantou o que iria dizer. Porém só acrescento algo de fundamental aí: Instituição aparelhada por comunistas, acaba dando nisso daí. Talquei?

    2. Renan Cavallini
      Renan Cavallini

      Melhor colocação do texto e que deveria ser o mantra dos políticos: “Em vez de o Estado outorgar favoritismos, seria muito melhor que removesse barreiras.”

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