Em meio à tensão da Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética estavam em uma corrida armamentista e ideológica. Nesse contexto, a Groenlândia emergiu como um ponto estratégico crucial para os EUA. Foi nesse cenário que surgiu o Camp Century, uma instalação que, à primeira vista, parecia ser apenas um centro de pesquisa científica. No entanto, seu verdadeiro propósito era muito mais complexo e estratégico.
Construído sob a espessa camada de gelo da Groenlândia, o Camp Century era parte de um projeto militar secreto dos EUA. A instalação não apenas abrigava cientistas, mas também servia como um teste para o Projeto Iceworm, que visava criar uma rede de túneis para o lançamento de mísseis nucleares. Décadas depois, os detalhes dessa operação vieram à tona, revelando a verdadeira extensão das intenções militares por trás da fachada científica.
O que era o Camp Century?
O Camp Century não era uma simples estação de pesquisa. Era uma verdadeira cidade subterrânea, construída sob uma camada de gelo de 8 metros de espessura. A base possuía infraestrutura completa para sustentar seus habitantes, incluindo dormitórios, laboratórios, refeitórios e até um reator nuclear para fornecer energia. Cerca de 200 homens podiam viver ali por meses, isolados do mundo exterior.
Os engenheiros dos EUA utilizaram tecnologia avançada para escavar túneis no gelo e erguer a base. A vida no Camp Century, apesar do isolamento, oferecia boas condições, com alimentação de qualidade e opções de lazer. No entanto, o ambiente inóspito e a necessidade de manter o segredo sobre a verdadeira finalidade da base criaram desafios psicológicos para seus ocupantes.

Qual era o objetivo do Projeto Iceworm?
O Projeto Iceworm tinha como objetivo testar uma rede de túneis subterrâneos para o lançamento de mísseis nucleares contra a União Soviética. A ideia era criar uma vasta rede de túneis, capaz de esconder e lançar até 600 mísseis. O projeto foi mantido em segredo absoluto, e muitos dos envolvidos desconheciam seu propósito militar até que informações vazaram.
Embora os mísseis nunca tenham sido lançados do local, o projeto exemplifica as medidas audaciosas adotadas durante a Guerra Fria. Tentativas de criar um sistema de ferrovia subterrânea para transportar os mísseis também foram feitas, mas não tiveram sucesso.
Quais foram as contribuições científicas do Camp Century?
Apesar de seu uso militar, o Camp Century também se destacou por suas contribuições científicas. Pesquisas realizadas na base, especialmente nas áreas de geofísica e paleoclimatologia, foram pioneiras. Cientistas perfuraram um núcleo de gelo de 1.390 metros de profundidade, fornecendo dados valiosos sobre as condições climáticas adas.
Essas descobertas estabeleceram as bases para a paleoclimatologia moderna e ajudaram a entender o comportamento das geleiras e os efeitos do Ártico no clima global. O núcleo de gelo extraído continua a ser um importante arquivo climático, permitindo que cientistas estudem a história do clima terrestre nos últimos 100.000 anos.
Por que o Camp Century foi fechado e quais são os riscos atuais?
Em 1967, o Camp Century foi desativado devido a desafios logísticos e ao desgaste causado pela pressão do gelo. Com o tempo, a base foi parcialmente destruída pelo movimento das camadas de gelo. No entanto, o fechamento da base não encerrou sua história.
Com o aquecimento global e o derretimento das camadas de gelo, resíduos tóxicos, incluindo detritos radioativos, deixados para trás começaram a ser expostos. Pesquisas lideradas por cientistas como William Colgan indicam que esses materiais podem representar riscos ambientais sérios no futuro, à medida que o planeta continua a aquecer.