“Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria.”
(Benjamin Franklin)
Filha de um funcionário público e de uma telefonista, Adalgiza Maria Dourado nasceu em Brasília, em 1º de janeiro de 1960, três meses antes de a capital federal ser oficialmente inaugurada. O que jamais poderia imaginar é que o lugar que cresceu junto com ela também seria o palco do pior momento de sua vida — hoje em perigo.
Em 8 de janeiro de 2023, Adalgiza pegou a bandeira do Brasil por volta das 11 horas da manhã e decidiu ir sozinha à Praça dos Três Poderes para se juntar aos manifestantes que estavam descontentes com a situação do Brasil. Ela ficou no entorno do Congresso Nacional por aproximadamente três horas.
Sem dinheiro e com fome, decidiu voltar para casa pouco antes das 15 horas. Enquanto tentava sair do local, começou a presenciar um tumulto. Ao olhar para cima, viu helicópteros sobrevoando a região. Não deu tempo de entender o que estava acontecendo. Quando menos esperava, levou um tiro de bala de borracha em uma das pernas.
“Ela me contou que, de repente, começou a correria”, disse Célia Regina, irmã de Adalgiza. “Os policiais jogaram bombas de gás de efeito moral. Minha irmã começou a ar mal.”
Mesmo com a perna machucada e sentindo tontura, ela tentou sair do meio da confusão. Aproximou-se do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar se esconder, mas não conseguiu. “Ela viu policiais batendo em mulheres”, contou Célia Regina.

Com fortes dores na perna em razão do tiro, Adalgiza foi presa e levada à delegacia da Polícia Federal. No local, ou frio e fome. Cinco dias depois, foi para prisão domiciliar com uma tornozeleira eletrônica e ficou proibida de usar redes sociais. Em maio de 2024, teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. À época, ele alegou que a mulher descumprira medidas cautelares. Hoje com 65 anos, Adalgiza está encarcerada na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia.
A dor que ela sentiu na perna no dia 8 de janeiro não se compara a outras que ela sente dentro do presídio. Adalgiza foi diagnosticada com depressão profunda. Segundo os médicos, ela tem pensamentos suicidas, crises de ansiedade, chora constantemente e sofre de arritmia cardíaca.
Os próximos 16 anos
Adalgiza piorou desde que descobriu que foi condenada a 16 anos de cadeia, por crimes como “golpe de Estado” e “abolição violenta do Estado Democrático de Direito”. O problema com a depressão não é de agora. Sua família tem um histórico de suicídio, o que inclui uma tentativa dela própria, aos 15 anos. Os sintomas começaram na adolescência, quando os pais se separaram.

Aos 20 anos, ela se casou e teve duas filhas, que lhe deram quatro netas. O primeiro bisneto nascerá em breve. Embora sua vida tenha melhorado durante o casamento, Adalgiza enfrentou uma dura separação depois de oito anos de matrimônio. A depressão e a ansiedade a levaram ao alcoolismo. Quando tudo parecia perdido, ela encontrou a Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista, instituição que a ajudou a livrar-se do vício. Muito grata ao lugar, ou a trabalhar como voluntária, cuidando de idosos e portadores de HIV.
Pensamentos suicidas
Na prisão, ela hoje divide a cela com homicidas e traficantes. Segundo Luiz Felipe Cunha, que integra a defesa de Adalgiza, uma dessas criminosas matou a própria filha. O advogado acionou a Organização dos Estados Americanos (OEA) para denunciar a violação de direitos humanos contra sua cliente, que não tem recebido o tratamento de saúde adequado no presídio.
Oeste teve o ao prontuário médico de Adalgiza. Em agosto de 2024, ela relatou ao médico que teve ataques de pânico em algumas ocasiões.

Preocupado com a situação, o médico que a atendeu pediu aos agentes penitenciários que não a deixassem sozinha dentro da cela, pois haveria risco de suicídio. “A paciente perdeu vários familiares por suicídio”, relata no prontuário. “No presídio, Adalgiza planeja enforcar-se.” Além da tristeza profunda, ela contou que não consegue dormir bem em razão das más condições do colchão.


Cunha quer que a OEA recomende à Justiça brasileira a concessão de prisão domiciliar, sobretudo porque ela corre “risco de morte”. O advogado também alega que o presídio está omitindo e desconsiderando os problemas de depressão e de comorbidades que acometem Adalgiza, apesar dos prontuários médicos.
De acordo com Cunha, os atendimentos médicos e psicológicos são solicitados desde dezembro de 2024 e autorizados pela Vara de Execuções Penais. O presídio, contudo, “se nega a conceder consultas médicas desde o ano ado”, afirmou. Se nada for feito, Cunha teme que Adalgiza possa se tornar mais um Clezão.
Leia também “Operação dignidade”
#MoraesTorturador
As barbáries cometidas pelo STF e nosso perdulário sistema judicial precisam de freios que pela Constituição Federal é o Senado quem pode tomar as medidas.
Tivemos um Pacheco por 4 anos e agora um Alcolumbre para somar nada a coisa nenhuma.
Condenando pessoas inocentes.
Que tormento está ando Adalgiza e sua família. Que ela seja resiliente para acreditar que isto vai ar e ela terá toda esta injustiça reparada.
Se ninguém parar o tirano de toga ele vai o quiser.
Os canalhas vão pagar. Nessa vida ou na próxima.
Excelente artigo, sempre que expomos uma tirania real, chegamos a verdade.A depressão é uma doença grave e se não tratada leva sim a morte. Imagine a angústia e o tormento que Adalgiza vive diariamente na Colmeia, está em um campo de concentração sem data para sair.